A MORTE DE UM POEMA

Poesias

Por José Gerraldo Wanderley Marques

Hoje morreu um poema no meu coração
Mas a poesia ficou intacta
A tecer fios que sustentam a minha alma
E a mandar essa chuvinha
Que me acalma

Há miosótis no canteiro da janela
E açucenas no jardim
Que mais quero eu
Como agasalho e consolo?

Afinal de contas
Nem todo poema vale a pena
Quando a lágrima é mínima
Quando a alma mingua
E fica pequena

Afinal de contas
Tudo o que é vivo morre um dia
Pra que então choramingar
Em tempos de pandemia?
- não é mesmo Excelências? -

Todo poema também morre
E morrem até
Os imortais da Academia

Só não morre a poesia
Que preenche o universo
Pois o Eterno a declamou
Desde o primeiro dia
Ao pairar do Santo Espírito
Sobre as águas
E depois fez parar o sol no céu
E abriu um caminho no mar
E sem cessar chorou
Quarenta dias, quarenta noites!

Que se vá em paz o meu poema
Porque logo nascerá outro
Pois a fonte da poesia
Nunca cessa de jorrar
Mas se vier
Com asas de anjo torto
Que venha natimorto!

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