BIENAIS

Crônicas

Lúcia Nobre

“A arte e a educação são áreas revolucionárias por natureza. Por meio delas, mudamos nossa visão de mundo e criamos outras maneiras de olhar e agir. Ser artista e professor exige um exercício constante de criação e descoberta de novos caminhos”
(Stela Barbiere).


As pessoas encontram realizações de diferentes modos. Sempre que participo de uma bienal do livro, seja em Maceió ou fora, fico realizada. Aliás, fui só uma vez para a de São Paulo, mas valeu como se tivesse participado de todas, pois foi uma experiência que marcou todos os escritores alagoanos que dela participaram. Posso descrever, mas a emoção é de quem participou.
O avião quase lotou com os escritores alagoanos rumo a 17ª Bienal do Livro de São Paulo. Era 25 de abril de 2002. Fomos muito bem recebidos no grande salão da bienal. Lançamos nossos livros, conhecemos diversos escritores, até fizemos discursos alagoanos. Antes de chegarmos a São Paulo, passamos no Rio de Janeiro e assistimos ao lançamento do livro Ninho de cobras de Lêdo Ivo na Academia Brasileira de Letras. Lá estavam os ex-governadores de Alagoas, Ronaldo Lessa e Divaldo Suruagy, e dois escritores alagoanos que residem no Rio de Janeiro, Cléa Marsiglia e Oliveiro Litrento. Tudo isso marcou os escritores alagoanos, principalmente, quando encontrávamos, caminhando pelo grande salão da bienal, escritores conhecidos e parávamos para conversar e trocar autógrafos. Entre eles, Ariano Suassuna, Ziraldo e Zélia Gattai.
No entanto, as bienais em Maceió, promovidas pela Edufal, são, para mim, mais importantes, sem nenhuma dúvida. A primeira bienal de Alagoas ocorreu em setembro de 1998, no Iate Clube Pajussara, tendo como coordenadora a professora Leda Almeida. Lancei a primeira edição de O Sonho de Alice nesse evento, em que reencontrei vários santanenses. Houve uma lacuna entre a I e a II Bienal, de 1998 a 2005. Nesse período, Eraldo Ferraz coordenou o “Salão do Livro e da Arte”, em que lancei A arte Rosa do popular ao erudito: uma incursão na tradição cultural na contística de Guimarães Rosa (2000) e A Filha do lodo (2001). A II Bienal Nacional do Livro de Alagoas, 19 a 25 de outubro de 2005, ocorreu no Clube Fênix Alagoana sob a coordenação da professora Sheila Maluf, tendo como patrono o escritor alagoano Lêdo Ivo.
A III Bienal Nacional do Livro de Alagoas realizou-se de 19 a 28 de outubro de 2007, no Centro de Convenções - Centro Cultural e de Exposições Ruth Cardoso, local que abrigou também suas futuras edições. Houve o lançamento de O conto das Alagoas e A poesia das Alagoas, duas coletâneas organizadas por Carlito Lima e Edilma Bomfim, uma festa de escritores, poetas e ficcionistas alagoanos, unidos pela literatura. Tal bienal foi de grande prestígio para os santanenses pela instalação do estande do Portal Maltanet. Os conterrâneos se encontraram, viram e compraram livros expostos. Eu estava realizada. A maior atração para os que passavam e visitavam o estande, segundo Malta, foi a exposição de uma obra de arte feita a partir de sucata pelo escultor Manoel Belarmino. Essa obra retrata o sertanejo pensativo, fumando seu cachimbo, com sua enxada, instrumento de trabalho, e, do seu lado, descansando, seu fiel amigo “Baleia”, nome atribuído ao cão pela maioria dos visitantes, associando a escultura aos personagens de Vidas Secas do escritor alagoano Graciliano Ramos. Segundo Malta, crianças e adultos, ao se aproximarem do estande, admirados, saudavam Baleia e Fabiano. Eu, uma dessas visitantes, antes de cumprimentar Malta e seus filhos, que simpaticamente sorriam, saudei Baleia e Fabiano.
A IV Bienal Internacional do Livro de Alagoas deu-se de 30 de outubro a 08 de novembro de 2009. Nela, lancei dois livros com o apoio da Fapeal, a segunda edição de O sonho de Alice e Cotidiano: entre palmas e arvoredos. Mas, o que marcou para sempre foi a presença de santanenses no estande da Fapeal. Tínhamos marcado um encontro com Malta e José Melo, que veio com o professor Sávio para encontrar com José Gentil e Manoel Valter. Todos felizes, chegamos ao estande e apresentamos ao pessoal da Fapeal e aos escritores presentes o professor e jornalista José Melo, patrono dessa bienal. Naquelas noites de encontros culturais, José Melo era a personagem mais importante. Para os conterrâneos, era motivo de orgulho. Para completar o quadro, chega mais um escritor santanense para nos alegrar, Djalma Carvalho.
Para completar a beleza da bienal de 2009, o Portal Maltanet conseguiu um lugar para expor os livros santanenses, 07 de novembro, em uma tarde de sábado, na praça de autógrafos, centro da bienal, lugar mais animado não poderia ser. Por ali, passavam todas as pessoas. Foi o maior sucesso para todos nós que estávamos lá. Tudo arrumado com muito esmero e os santanenses foram chegando com alegria. Djalma e José Carvalho, José Marques de Vasconcelos, a prefeita Renilde, Romildo e Salete Pacífico, Pedro e Rosinete Pacífico e toda minha família, as escritoras Ruth Quintela e Lourdes Nascimento, amigos e convidados.
A V Bienal Internacional do Livro de Alagoas realizou-se no período de 21 a 30 de outubro de 2011. Teve como patrono o jornalista alagoano, premiado pela ONU, Audálio Dantas, de Tanque d'Arca. Essa bienal foi de grande importância para mim, tanto pelo lançamento de Veredas: caminhos e riachinhos, como pelas presenças inesquecíveis de amigos e de minha família. No estande da Academia Alagoana de Letras, recebemos José Marques Melo, Luitgarde Barros, Audálio Dantas, professor Tobias Medeiros, Renilde Bulhões, prefeita de Santana do Ipanema; Maria Verônica Malta, secretária de cultura de Santana do Ipanema; José Malta, diretor do Portal Maltanet; doutor José Medeiros e demais membros das academias de Alagoas.
A VI Bienal Internacional do Livro de Alagoas, coordenada pela professora Stela Lameiras, deu-se no período de 25 de outubro a 03 de novembro de 2013. Os patronos foram os escritores alagoanos e Portugal foi o país homenageado com o tema "Descobrir nas palavras a magia dos sentidos". Daí, as manifestações poéticas, do Trovadorismo ao Cordel, que deram vida à bienal. Como acontece nas bienais, possuía uma vasta programação para todos os gostos, para adultos e crianças. Os escritores de Alagoas participaram lançando e até relançando suas obras literárias. Tudo se torna uma festa. Alegria para todos os participantes. Quando lançávamos nossos livros no estande da biblioteca estadual, a escritora Arriete Vilela declarou que "a bienal é um paraíso". Concordo com as palavras da escritora, pois é isso que sinto quando participo de eventos dessa natureza. Apresentei aos visitantes do evento Reencontros Entretantos e relancei O Sonho de Alice e Veredas: caminhos e riachinhos.
Dos amigos e da família que participaram da festa, destaco as duas Andréas, a Nobre Pacífico, irmã, e a Pacheco Pacífico, prima. O motivo, além da alegria de suas presenças, foi de ser a primeira vez que participaram do meu lançamento na bienal. A presença dos amigos e dos irmãos no estande da Academia Alagoana de Letras, nessa noite de festa de livros, torna-se a razão principal para que eu continue escrevendo.
Na bienal é sempre onde acontecem encontros. Nessa de 2013, como nas outras, encontrei grandes amigos e grandes alegrias. No domingo, dia 27, participamos de uma homenagem “José Marques de Melo: 70 anos?” em mesa redonda com Luitgarde Barros, Douglas Apratto Tenório, Audálio Dantas e José Marques de Melo. Em se tratando de santanenses, o escritor Fábio Soares Campos lançou seu primeiro livro Santana do Ipanema. Em cada canto um conto! na praça de autógrafos, no dia 30; e, no dia 02, no estande da Editora Viva, Virgílo Agra lançou Saudações Caetés.
São as gratificações por participar de eventos que só engrandecem nosso povo e nossa cidade. Falamos de bienais em Maceió, capital de Alagoas. Creio que um evento de tal porte acontece para reforçar a motivação do escritor alagoano, quase sempre desvalorizado. Com esse incentivo, poderá até acreditar em continuar com o seu sonho: saber que alguém lê o que ele escreve. Quem sabe, com esse exercício de transmutação e um certo magnetismo entre escritor e leitor, o mundo tome um novo rumo e todos possam ter uma nova visão e possam criar novos caminhos, segundo a epígrafe do texto.

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