Ano passado numa luminosa manhã Luiz Carlos Figueiredo me esperava, além de jornalista, historiador, é fotógrafo. Pouco antes das oito horas acostamos no Hotel Ponta Verde. O poeta Lêdo Ivo apareceu. Partimos rumo ao litoral norte das Alagoas. Atravessamos as praias urbanas da Jatiúca, Cruz das Almas, Jacarecica, A estrada paralela ao mar nos presenteia uma exuberante vista, elegantes e simétricos coqueiros cujos troncos não conseguem tamponar o verde mar de matizes azuis. Na praia de Guaxuma identificamos a casa de PC Farias envolvida em mortes misteriosamente não resolvidas Em Ipioca subimos ao Alto, tirar fotos onde um dia foi casa do Marechal Floriano Peixoto. Que bela vista! Retornamos à estrada, conversas, muitas lembranças, casos bem humorados, faziam a festa daqueles três senhores de vida bem rodada enquanto o carro rodava no asfalto cortando o canavial viçoso, fez lembrar o poema, Trem das Alagoas, de Ascenso Ferreira. ”Adeus morena do cabelo cacheado... Vou danado pra Catende... Com vontade de chegar... Cana caiana, cana roxa, cana fita,... Cada qual é mais bonita... Todas boas de chupar...”
Da Usina Santo Antônio retomamos o rumo do mar, região ondulada de difícil manejo do trator, a cana é cortada à mão pelos cambiteiros em burricos. Atravessamos pequenas fazendas de gados brancos e búfalos pretos até o Passo de Camaragibe, bucólica cidade, berço de nascimento do mestre Aurélio Buarque de Holanda. Por cima de uma belíssima ponte, construção de 1910, atravessamos o Rio Camaragibe. Novamente entramos entre canaviais e coqueirais, um imenso tapete verde, o verde de Lorca, “Verde que te quiero verde. Verde viento. Verdes ramas. El barco sobre el mar y el caballo en la montaña.”
Chegamos à bela praia de Camaragibe, o mestre Lêdo extasiado contemplou cheio de emoção pequenas jangadas de velas brancas sobre o mar. Continuamos nossa via, a estrada beira-mar se tornou minúscula entre enormes coqueiros velhos, centenários, altos, altivos como se fossem sentinelas do mar. Atravessamos povoados de casario antigo, há mais de 30 anos o progresso é marcado apenas pelo mar de antenas parabólicas nos baixos e velhos telhados. Marceneiro, Riacho, São Miguel dos Milagres, o mar, uma piscina em todo litoral. É bom que se diga, o banco de coral paralelo à linha da praia entre Alagoas e Pernambuco é o segundo maior do mundo, perdendo apenas para o da Austrália. Em São Miguel dos Milagres o famoso jornalista Sebastião Nery passa férias de fim de ano na casa de Maurício Moreira. Segundo revista de turismo, a água daquela região é a mais quente dos mares brasileiros. O poeta se empolgava com esses detalhes, comentava, contava histórias.
Seguimos em frente, povoado de Tatuamunha, terra do tatu grande, dentro do Rio o maior programa ambiental do peixe boi, impressionante os enormes mamíferos nadando mansamente nas águas escuras.
Afinal chegamos a Porto de Pedras, visitamos, fotografamos o velho farol, fixação sentimental de Lêdo Ivo. Almoçamos em companhia do valoroso prefeito Júnior Boi Lambão e Fernanda, sururu, carapeba e fritada de camarão. Durante o retorno não percebi cansaço no poeta, pelo contrário, estava feliz em rever os mares, as praias, os coqueirais de sua querida Alagoas.
Mês passado Lêdo Ivo foi brilhante na 3ª FLIMAR (Festa Literária de Marechal Deodoro) participou de mesas de debates, palestras, deu opinião, visitou a feirinha, uma vitalidade invejável em seus 87 anos de vida. Antes de levá-lo ao aeroporto almoçamos juntos no Hotel Maceió Atlantic, me pediu dois favores: Nunca deixasse de convidá-lo para participar da FLIMAR e na próxima vinda às Alagoas, uma pequena visita a bela cidade de Piranhas no sertão.
Domingo passado recebi a triste notícia, em Sevilha Lêdo Ivo sentiu-se mal durante o almoço, morreu no hospital. Foi-se o poeta, ficaram eternas suas poesias. Colegas da Academia, nos dávamos bem, nos queríamos bem, privilégio prazeroso, inesquecível amigo.
Comentários