Pretendia postar no mural, no domingo 13 já que todos os anos, no dia das mães, lembro o episódio que narrarei aqui. Entretanto, surgiu um probleminha do qual já comentei no mural, e por conta disso atrasei. Seria postado lá, contudo, quando fui digitando, observei que não seria tão pequeno que coubesse no espaço destinado a cada muralista a não ser usando vários blocos e isso não é nada atraente, apesar de algumas vezes já ter postado dessa forma, mas aqui parece ser bem mais extenso. Desse modo, será encaminhado para o link literatura, sem pretenções de ser incluída no rol dos literatos (as) que lá estão. Que Deus me perdoe e quem ler, também.
Da. Helena Braga das Chagas, minha querida e saudosa professora, no G.E.P.F.C., me preparava para declamar poesias nos eventos importantes como este, do dia das mães. Em certa ocasião, participei de uma apresentação onde eu saía do meio da turma de garotas que cantavam, para declamar um trecho da letra.
Eu era substituta, a garota que foi preparada, na hora se indispôs, ou, como diz a gíria, amarelou... Como eu assistia tudo porque estava sempre ensaiando, decorava o trabalho de todas. Sempre estava na 'reserva' para o caso de alguém falhar. Da. Marinita, diretora da escola, foi quem gostou da desistência da garota, segundo ela, eu declamava melhor, comentavam que era muito natural quando recitava; estando em cena, parecia estar sozinha. Na verdade sempre fui exigente com qualquer coisa que estivesse sob minha responsabilidade, se me delegavam tarefas desse tipo, eu procurava merecer a confiança.
A turma da qual eu estava incluída na apresentação, era composta de dezenove garotas, seis em cada lateral, três em diagonal pendendo de cada extremidade das paralelas em direção ao centro, e uma na ponta, de modo a formar a letra 'M'. Eu estava posicionada aí por ser a menor dentre todas.
Havia as garotas maiores, de turmas mais adiantadas, estas ficavam atrás, era bem organizado para que a letra, o 'M' formado pela posição das meninas, ficasse bastante visível para quem assistia e ao mesmo tempo deixar visão para cada uma delas.
Era imprescidível haver decoração no local do evento, embora houvesse boa vontade, não havia recursos para uma decoração pomposa como era desejada por todas (os), de modo que tínhamos de nos conformar com alguns cartazes que fazíamos colando gravuras de mães com filhos, que recortávamos de revistas, e algumas flores que conseguíamos nos jardins de moradores da cidade, aproveitando a boa vontade das doadoras, já que não havia floriculturas na região. No dia das mães ‘não' podia faltar flores. Com toda escassez do produto, ainda assim, em alguns jardins, sempre havia algumas.
Da. Marinita orientou a turma sair à procura nas residências que havia jardins; recomendava que solicitássemos em seu nome, etc. Na época, minha tia estava cultivando uma espécie de roseira rara, para a região; havia adquirida com dificuldades, porque o enxerto vinha de São Paulo e era trabalhosa, merecia muita dedicação, em compensação as rosas eram lindas, de pétalas firmes e longas. Suplantava a beleza da rosa amélia, a que predominava na época. Por sorte, no dia do evento, esta roseira estava florida e consegui entre cinco e sete rosas, contando com botões semiaberto e flores. Mais alguma de outras roseiras comuns e um pouco de sempre vivas.
No momento da apresentação, Da. Helena me entregou um dos botão da roseira ‘rara’, falou que eu teria que estar com ele na mão, e alertou para o fato de me concentrar na rosa, como se estivesse declamando para ela, contudo, sem que negligenciasse as mães, enfim, tinha que saber dosar. Isso não era problema, eu entendia fácil o que ela explicava, o que não assimilava era a mensagem que a letra da canção que cantaríamos transmitia, "Flor Mamãe", misturava tudo, mãe, rosa e coração. Acreditava que havia um tipo de rosa por nome 'mamãe' e que existia um jardim cujo dono se chamava Coração. Isso foi o que causou o desastre.
Daí, se dirigindo a outra professora que estava a seu lado, continuou Da. Helena: "essas rosas são lindas, por aqui só tem no jardim de comadre Isaura."
Não tenho bem certeza se eram comadres, ou ela ou Da. Marinita, de qualquer foram uma delas ou ambas eram, só sei que ouvia muito alguma delas quando se dirigia a minha tia falar,"comadre".
Chegou nossa vez, nos posicionamos em nossos respectivos lugares e demos início a nossa apresentação cantando Flor Mamãe. Ao término das quatro estrofes, eu me separava do grupo e mais próxima ao público, andando vagarosamente de um para o outro lado, recitava as duas primeiras estrofes, enquanto a turma continuava cantando umas duas oitavas abaixo do tom inicial, para que eu fosse ouvida por todas (os).
Quando chega o momento de me afastar do grupo e declamar, saio de entre as outras, olhando de relance para Da. Marinita e Da. Helena, sinto segurança, percebo que estão confiantes... E começo a declamar. De início, fui muito bem:
"Andei por todos os jardins
procurando uma flor pra te ofertar
em lugar algum eu encontrei
a flor perfeita pra te dar
Ninguém sabia onde estava
esta flor mimosa perfeição
ela se chama flor mamãe
que só nasce nos jardins "de tia Isaura." "
...foi um zum zum... E a turma eleva a voz novamente e continua: “... enfeita nossos sonhos, perfuma nossa ilusão..."
Eu, crente que havia feito a coisa certa, pois a rosa só existia no jardim de tia Isaura, segundo Da. Helena, ela havia acabado de dizer... eu só atualizei o texto. Achei que antes era "Do Coração" porque as rosas havia sido colhida do jardim de alguém que levasse este nome. As mães que assistiam, todas chorosas, caíram na risada, para meu desapontamento. Tentavam disfarçar o riso, mas estava muito evidente, era impossível ficar encoberto.
Queria ver lagrimas, quanto mais, melhor, pois lagrima era sinônimo de um bom desempenho, na minha concepção; queria fazer como Suely que deixava as mães 'pranteadas', pois nunca vi nada que emocionasse tanto as mulheres como esses eventos neste dia. Não sei atualmente, já que não tenho participado desse tipo de homenagem, mas naquela época, havia fartura de lágrimas para se gastar por essas ocasiões.
Talvez o humor cômico que gerou as risadas é que tenha sido o atenuante da represália que certamente eu sofreria de Da. Marinita, pois ela não era de fazer vista grossa...
As mães haviam chorado bastante com a poesia declamada por Suely. Tudo que eu queria era a confirmação de um bom desempenho, o riso gerado, para mim foi como um balde de água fria.
Não sei muito sobre Sueli, sei que participava do coral da igreja, era uma moça loira, bonita, usava óculos de graus e declamava muito bem.
A poesia que ela declamou foi: "Ser mãe é padecer num paraíso”... Até hoje tenho minhas dúvidas sobre a veracidade desse suposto paraíso... Para mim, os filhos, dependendo da mãe que tem, pode sim, padecer no paraíso, mas a mãe... Já li, não lembro onde e quem citou, mas diz assim: "Ser mãe é padecer num paraíso de xixi e cocô." Isso aí está mais parecido com a realidade... Então quando crescem, o sétimo paraíso vem a nós de gorjeta por preocupações com coisas que nem nós sabemos do que se trata porque ainda está no forno do criativo cérebro da mãe, cozinhando a 300º e haja paraíso...
Retomando: Quando o quadro chegou ao fim, e nos retiramos, Da. Helena veio até mim e disse: "mas Lucia, o que foi isso, menina? Por que você mudou a poesia? O que é que tem o jardim da sua tia com o coração de mãe?" Tentei explicar que ninguém na cidade levava o nome de Coração, pelo menos as donas ou donos dos jardins por onde passamos colhendo flores. Se eu falasse que a flor era de tal jardim estaria mentindo, a rosa era do jardim da minha tia mesmo.
E confortei minha professora, ao invés de ser confortada, pois havia ficado muito pra baixo por meu desempenho não ter sido reconhecido, que havia apenas servido de gozação. Falei para ela que essa minha participação não era importante já que eu estava substituindo outra menina, na minha vez eu iria fazer bonito. E pensei com meus botões: quero ver se agora vão rir.
A poesia era longa, se comparada com os versos que declamei na anterior. Falava da separação do filhinho de certa mãe por esta ter sido acometida de certa doença.
Ela orava o tempo todo e procurava sem cessar, uma cura para o mal do qual fora acometida (vai ver que era uma virose), para poder trazer o filho de volta ao seu acochego. Até que um dia fica curada e vai ao encontro do filho e tal...
A narrativa era muito emocionante, ñ tinha como as choronas se controlar, e eu caprichei no monólogo; afetava nas expressões de desespero e o tom se tornava solene quando se fazia necessário. Imagino se alguém tem a ideia de um fundo musical, como seria o pranto... Dessa vez saí de peito lavado com as lagrimas das mães, inclusive da minha.
FLOR MAMÃE
Júlio Louzada e Jorge Gonçalves
Andei por todos os jardins
Procurando uma flor pra te ofertar
Em lugar algum eu encontrei
A flor perfeita pra te dar.
Ninguém sabia onde estava
Esta flor, mimosa perfeição.
Ela se chama flor mamãe
Que só nasce nos jardins do coração.
Enfeita nossos sonhos
Perfuma nossa ilusão
Flor Divina que eu suponho
Faz milagres em orações.
Neste dia de carinho
Quero senti-la ao peito
Inebriando minha alma
Flor mamãe, amor perfeito.
FLOR MAMÃE
CrônicasLúcia Azevedo 20/05/2012 - 20h 18min

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