CORONÉ COSTINHA

Crônicas

José Peixoto Noya

Antônio Alves Costa era o nome verdadeiro do “Costinha”, chefe da extensão local do Ministério da Agricultura. Everaldo Nóia, amigo e companheiro de viagens, o apelidou de “Coroné Costinha”, por conta de um “causo” que viveram na época da ditadura e que relataremos no decorrer desta história.

Costinha sempre acompanhava o amigo quando de suas viagens a Maceió, quando este ia buscar combustível para abastecer seu posto de gasolina. Geralmente gastavam dois dias nessas viagens, pois paravam em todos os lugares para refeições ou apenas prosear. O mesmo acontecia diante de qualquer veículo parado na estrada com problemas mecânicos, pois Everaldo sempre socorria quem quer fosse.

Na ida costumavam parar no povoado de Branca de Atalaia, região de cana de açúcar e muitas jaqueiras. Tantas que o Costinha costumava dizer que cachorro daquela localidade não latia, pois só comia jaca, ficando com o focinho grudado. Esse efeito parece que também os atingia, pois dali em diante não mais conversavam, talvez pensando no que iriam aprontar.

Geralmente, quando chegavam à capital do nosso Estado, iam diretamente para o antigo Bar das Ostras, restaurante que servia o melhor camarão de Maceió, naquela época. Ficava às margens da lagoa Manguaba. Além de excelente comida, qualquer prato servia bem quatro pessoas.

Certa vez pararam o caminhão a uns 200 metros do restaurante e seguiram a pé, um na frente e o outro atrás, calados.

Sentaram em mesas diferentes, como se fossem estranhos, e fizeram seus pedidos. Quando os garçons trouxeram as refeições, olharam um para outro e, com espanto, Everaldo disse:
- Coroné Costinha, o senhor por aqui?!
Então pediram ao garçom para juntar as mesas e mandaram brasa em dois almoços que dariam para oito pessoas. Riam que era uma beleza, sem os garçons saberem o porquê; também riam para agradar aos clientes. Depois da “barrigada”, descansaram um pouco na cabine do caminhão. Depois partiram para carregar o veículo com gasolina.

Fizeram isto diversas vezes, sempre apostando no rodízio dos garçons, que não duravam muito tempo. A proprietária, apesar de ser gente muito boa, tinha uns filhos que não a ajudavam nem respeitavam os seus funcionários. Até isto eles sabiam!

Mas, vamos à origem do apelido. Como relatei acima, estávamos na época da ditadura. Eles se dirigiam para o a cidade de Areias, na Paraíba, onde iriam participar do casamento de um irmão do empresário.

Já em território paraibano um pneu furou durante uma forte chuva. Ninguém se oferecia para trocar o pneu e já estavam atrasados para a cerimônia. Desceram os dois e, quando estavam começando a operação, parou uma patrulha do Exército. Os praças ficaram observando os dois ensopados até a medula de água e lama.

Os componentes da patrulha apenas observavam, mas os dois notaram e ficaram apreensivos. Naquela época, diante de qualquer mancada a pessoa era detida para averiguações; muitas vezes “averiguavam” tanto que o detido ia para outra dimensão.

Valeu naquele momento a presença de espírito do Everaldo:
-- Coroné Costinha! Vamos terminar logo este trabalho, pois estamos atrasados para o casamento!
Na patrulha a maior autoridade era um Sargento. Entreolharam-se, balançaram com a cabeça e se mandaram; quem disse que iriam abordar um Coronel?

Riram até as lágrimas e seguiram com a viagem, chegando em cima da hora ao enlace matrimonial, torcendo para que chegasse a hora do “zero oitocentos”, a conhecida “boca livre”.
Costinha era brincalhão por natureza e, mesmo sem ser natural de Santana do Ipanema, tomou a nossa terra como sua, sendo aceito pelos nossos conterrâneos como tal, tirando “onda” com todo mundo. Os personagens a princípio ficavam atônitos, mas depois levavam tudo na brincadeira.

Que eu me lembre, durante todo o tempo que passou entre nós, em suas brincadeiras só levou uma desvantagem. Ele vinha das bandas do antigo Cabaré de nossa cidade, quando encontrou um cidadão de nome Aníbal, Fiscal de Rendas bastante conceituado, de um mau humor infernal.

Estava com uma vassoura varrendo sua calçada, quando o “Coroné” ali chegando deu uma paradinha em frente ao “dono da calçada”, dizendo em tom bem sério:
-- Aníbal, eu estou vindo agora mesmo do cabaré! Dei cinco no decorrer da noite! Estou exausto!
Aníbal nem sequer olhou, e lascou esta:
-- Costinha, o c... é seu! Você dê quantas vezes quiser e gostar!
Continuou o seu trabalho de gari voluntário; nem sequer olhou para o herói, mas estava rindo de fininho com a cabeça baixa. Costinha se mancou e partiu para sua residência. Era tudo brincadeira, mas o tiro saiu pela culatra e ele não gostou.

Faleceram com a amizade estremecida, mesmo sabendo que ambos eram amigos. Deixaram muitos amigos, suas respectivas famílias, saudades e muitas histórias engraçadas.

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