Nasci, cresci e vivi com as águas salobras do Panema
Entre serras, as do Gurgi, Camonga, Araçá e outras serras
Elas inventam paisagens, emolduram e embelezam
A cidade mágica de tão real Santana do Ipanema
O clima noturno parodia as noites dos sertões românticos
Daí a inspiração dos poetas que não se cansam de poetizar
Tal qual a orquestra musical dos grilos em suas festas
Especialmente em noites quentes lá na minha cidade
Conheci as noitadas escuras dos sítios no Batatal e nas Lagoas
Tomei leite quentinho tirado da vaca ao amanhecer campestre
Atravessei de canoas as enchentes espetaculares do nosso rio
Águas tantas que atraia a cidade inteira em busca de emoções
Moradores festejavam e agradeciam aos santos protetores
Acordava-me nas madrugadas a minha avó Angelina Amélia
Que vinha lá das Lagoas do João Gomes nas primeiras sextas
Para rezar ladainhas e ofícios meditados por Dona Maria jiló
E abençoados pelo padre Cirilo na Matriz de Senhora Santana
Vi papai cuidando com carinho dos doidos de Santana
Um dia ele nos assustou, chegou com Piau em seu carro
Encontrou-a debaixo de uma ponte com a mão bichada
Colocou-a em são Vicente e todos os dias a levava
À farmácia de Seu Zeca, Seu Aleixo e Genival Tenório
Percebi a raiva do matuto ao ser chamado assim
Mesmo que se vestisse de terno branco, chapéu elegante
E o bolso com dinheiro pra gastar, o malandro da cidade
Achava-se no direito de desdenhá-lo, mesmo que não tivesse
Nem uma casa pra morar, nem mesmo um sapato comprar
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