Ando devagar por uma estrada que se afina ao longe sem saber para onde vou. Às margens do caminho contemplo as flores brancas e vermelhas sufocadas pelos espinhos. Para onde estou indo, não sei, sigo na trilha da vida em busca do nada, o nada que não fere, não calunia e não magoa, porque é simplesmente um nada. Às vezes, ironicamente dizemos a alguem, você não vale nada, porém, se olharmos através do véu da espiritualidade, veremos que o nada não existe, e pelo fato de não existir é intocável. Tudo aquilo que é intocável, é sublime, é maravilhoso, portanto, o nada apenas existe no vazio das nossas excentricidades.
Continuo a jornada, sigo solitário sem um rumo definido, carros, pessoas passam por mim como ventos que sopram em todas as direções. Sou um estranho andarilho fora do ninho. Sinto sede, meus lábios ressecados receptam o suor que mina do meu rosto. Minhas forças lentamente vão atingindo o limite da resistência, sinto que vou beijar o solo num gesto reverencial de fraqueza. Olho o céu despido de núvens, a minha volta tudo treme num horizonte cinza distante. De repente uma luz surge do nada, do nada que não fere, não calunia e não magoa, estou debruçado sobre um mar de areia, minhas mãos despertam ao simples tato, sinto que é água, água que veio do nada para aliviar a minha sequidão.
Lanço o olhar enturvado à distância e consigo descortinar as imagens de velhas craibeiras adormecidas entre pedras e areias no leito árido do Rio Ipanema. Por um momento, sentado à beira de uma cacimba na cama do velho rio sedento, fecho os olhos e contemplo através da minha imaginação os seus dias de glórias; as praias dominicais que surgiam ao longo de suas margens, dias festivos; as canoas realizando passeos ousados na travessia de populares que vinham se abastecer na feira de Santana. Afinal, este é o nada que não fere, não calunia e não magoa, mas que me acolhe como um colo suave de uma mãe que acomoda um filho. Estou em casa.
Aracaju/SE, 16/01/2011
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