O Quebra Pote

Crônicas

Remi Bastos

Quem não lembra o quebra pote, brincadeira tradicional que por muito tempo alimentou os momentos festivos e alegres da criançada no interior do Nordeste? Em Santana era comum essa diversão em festas comemorativas e aniversários. Dias atrás quando passava um final de semana em Pirambu, cidade praieira aqui em Sergipe próximo a Aracaju, ao passar por uma das praças da cidade me detive ao ver um grupo de crianças participando de um quebra pote. E lá estava o pote de cerâmica dependurado em uma vara transversal a mais ou menos dois metros do solo, presa a um suporte de madeira, onde uma criança com os olhos vendados procurava acertá-lo com uma vara (cabo de vassoura). Geralmente dentro do pote são colocados bombons e doces. Fiquei algum tempo observando aquela brincadeira. Lembrei os meus momentos de criança quando participava dos quebra potes realizados na minha rua. Muitos meninos da vizinhança convergiam para aquela festa surpresa. A minha rua parecia um comitê de políticos em vésperas de eleição com tanta gente.

Lembro-me certa vez de um quebra pote onde participaram da brincadeira: eu (Remi), Benedito Cego (Biu Soares), Gaspar, Everaldo de Seu Oscar, Chico Soares (não perdia uma festa desse gênero), Carlos Soares e tantos outros. O quebra pote começou às dez horas, depois de uma novena matinal promovida por Renilce, Assunção Carvalho e Crizeuda Soares, rezada na casa de Seu Antônio Mariano que também era nosso vizinho. O altar ficava na sala da frente sobre uma mesinha onde se estabelecia a imagem de Santo Antônio o Santo Casamenteiro. O incenso era a fumaça do cachimbo de Dona Santa que tomava conta do ambiente, exalando aquele cheiro agradável do fumo de corda consumido em viveiro. Xogoió fazia às vezes o desempenho do sacristão, estava sempre atento ao desenrolar do novenário com o intróito dos cantos, era um “pixote” sabido com tendências eclesiásticas. Terminado a novena, dera início ao quebra pote. O primeiro postulante foi Elza de Seu Leosinger. Colocaram-lhe a venda e em seguida aqueles giros de 360° típico da brincadeira. Esta não conseguiu atingir o pote. O próximo candidato foi Carlos Soares, em seguida Dinha, entre outros que passaram distante do pote. Chegou a vez de Benedito, que ainda teve tempo de me falar: “Negão vou quebrar esse pote e passar um mês sem comprar puxa na venda de Seu Ozéias”. Olhos vendados, pau à pique, alguns giros, e La vai o Biu na direção do Tênis Clube. A turma atrás gritava quebra, quebra --- Benedito levantou o braço e arriou de repente tentando atingir o alvo, mas, tamanha foi a decepção depois que percebeu que havia tomado o sentido contrário.

Chico Soares ainda raspou o pote, mas não conseguiu atingi-lo em cheio. Everaldo de Seu Oscar quase acerta Dona Dulce, o cabo de vassoura passou raspando o seu braço a uma velocidade de 120 km por hora. Mas a brincadeira se desenrolava no ritmo de paz e alegria, tudo era festa. Finalmente o mistério do quebra pote foi desvendado. Chico Soares em uma segunda tentativa colocou o pote abaixo. A surpresa foi que no interior do recipiente de barro, entre os doces e bombons existia um gato, que no alvoroço partiu com um raio rumo ao ignorado. Assim eram as nossas brincadeiras nos tempos de criança. Ainda não existiam as drogas e a violência, apenas a simplicidade e a harmonia faziam parte de nós. Que permaneça sempre vivo em nossas lembranças a brincadeira do “Quebra Pote”.

Aracaju/SE, 20/10/2010

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