O BAR SETE PORTAS

Histórias Engraçadas

Remi Bastos

Decorriam os anos 70, vários amigos de Santana haviam deixado a terra natal a fim de lançar as redes dos sonhos nos mares da esperança. Era o que todos desejavam ter uma vida digna em um futuro que os aguardavam. Muitos conseguiram avançar nos estudos, outros se realizaram com um emprego promissor e alguns tiveram um destino inesperado. Existia em Maceió no Bairro Levada um pequeno bar situado a dez metros da linha do trem, o Bar Sete Portas, ou melhor dizendo, Bar da dupla Sílvio e “Toinho de Aniba”. O botequim não possuía portas, apenas as aberturas ou passagens por onde a clientela entrava e saia livremente durante as vinte e quatro horas. Sílvio de Jandira de emprego novo, um bom salário, fazia residência em uma república à Rua Formosa, não sei se no Bairro Ponta Grossa, apenas para satisfazer a sua vontade de manter o convívio e a cachorrada com amigos santanenses. Nessa república moravam Edvan, Rui Porquinha, “Tonho de Aniba”, entre outros. Normalmente trocavam de empregada (cozinheira) a cada semana, pois não havia quem aguentasse a bagunça que ali existia. Certa vez, numa sexta-feira eu estava vindo do Recife com destino a Santana e resolvi pernoitar em Maceió a fim de me encontrar com Mindinho e Silvio e Toinho. Fui diretamente a um posto da Brasilgás onde Mindinho trabalhava, na Rua do Comércio, para daí partirmos para a dita república e nos encontrarmos com a dupla infalível. Após alguns minutos, o “Pordinho” da Maravilha liberado seguimos com destino a república. No caminho fizemos duas ou três paradas para abastecermos os tanques com tira-gosto de imbu que o Velho Bodega costumava armazenar no bolso da algibeira. Por coincidência ou não, ao nos aproximarmos do Bar Sete Portas ouvimos uma música de Waldick Soriano, “Eu não sou cachorro não” escapando pelas portas do bar. Mindinho logo reconheceu o dono daquele “LP” e falou com a voz trêmula e vibrando de emoção: “Nego Remi já localizamos o homem, conheço essa música, é Silvio de Jandira “. Lancei um rápido olhar para o interior do boteco e lá estavam os dois frente à frente. Ao lado a radiola sobre um banco tendo a caixa (tampa) encostada a parede. “Toinho de Aniba” tentava acompanhar a música sentado em uma cadeira em volta à mesa agitando os braços e o pescoço numa situação de prazer, enquanto Sílvio operava no controle do som ao mesmo tempo em que dizia ao parceiro, Toinho hoje a radiola é quem vai nos deixar na república. Adentramos ao bar fingindo não vê-los e de costas para eles junto ao balcão soltamos o prefixo --- duas cachaças caprichadas. Logo fomos reconhecidos, e aos abraços num momento de felicidade mergulhamos de noite a dentro sob o aconchego da branquinha com tira-gosto de imbu e tripa de porco na farinha, embalados pelo repertório d amigo da radiola. Por volta das três horas da madrugada seguimos os quatro rumo à república. A radiola parecia uma criança mimada, no entanto, tínhamos a impressão de que nos conduzia pelas ruas estreitas dos nossos pensamentos.

Sílvio esses momentos são guardados com carinho em nossas lembranças. Você, Mindinho e o “Toinho de Aniba” foram atores de uma história que alguém jamais conseguirá transcrever, os nossos encontros no Bar Sete Portas. Hoje fazemos parte de sua felicidade, você longe das bebidas, mas tão perto dos amigos. “Toinho de Aniba” que já não está mais conosco, resta-nos dizer aos seus familiares que guardamos seu retrato numa redoma de cristal em nossos corações.

Um Grande Abraço.

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