A QUIXABEIRA NO SERTÃO

Crônicas

Antonio Machado

Já é público e notório para meus poucos leitores, que o sertão e o sertanejo e tudo que lhe envolve, me fascina. Pediu- me, pois o presidente da ACALA, (Academia Arapiraquense de letras e artes) da cidade de Arapiraca, um artigo para a revista Informando, editada anualmente, por aquele sodalício das letras, ao que prontamente atendi. Imagine o título: “O sertão e o Sertanejo”, sim, este mesmo, sem pestanejar, e o escrevi com muito garbo, haja vista minha vivência entre essa gente tão pacata quanto boa.

Quixabeira das arvores fincadas no solo adusto do sertão, é uma das que mais se identifica com o sertanejo, dada sua resistência e teimosia em permanecer sempre sombreada, parecendo sempre satisfeita, mesmo diante das grandes secas que tem sacudido o Nordeste. A Quixabeira pertence a família das sapotáceas, sendo muito freqüente nas caatingas, árvore de grande parte, mas cheia de espinhos pontiagudos e furadores, carecendo de cuidados no seu manejo. Sua sombra é apreciada pelos animais, mormente no verão, atingindo cerca de até dez metros de altura, sua madeira é apreciada nas queimas de tijolos, não possui uma haste alongada nem retilínea, mas cheia de entalhes, que não se presta para móveis.

Nas primeiras trovoadas do sertão acontecem suas floradas, com flores de pequeno tamanho, exalando um perfume fraco pela manhã e no fim das tardes, porém seu néctar é procurado pelas abelhas silvestres, mesmo sendo a Quixabeira uma árvore de folhas pequenas, os pássaros fazem sempre seus ninhos, sendo até protegidos face a quantidade de espinhos. Seus frutos, quando novos são verdes, porém ao amadurecerem tomam uma cor escura, praticamente preta, possuindo um leite pegajoso, a exemplo da jaca, mas o sabor é delicioso, sendo uma fruta conhecida pelos sertanejos. Hoje essa árvore está em fase de extinção, motivado pelas queimadas, dentro da ação depredadora do homem do campo, que sem a devida instrução, constitui- se maior inimigo da natureza, o que é deveras lamentável.

Outrora os riachos eram sombreados pelas frondosas Quixabeiras, servindo de abrigo para aves e animais, atualmente tudo está escasso, as árvores vão aos poucos sendo devastadas, arrancadas de seu habitat, sem nenhum respeito àqueles que foram os pioneiros do nordeste, e os primeiros a povoarem os sertões bravios, hoje são arrancados e jogados fora, transformando- se em cinzas, passando para o livro do esquecimento. As árvores estão ligadas a vida do homem, servindo- lhe em tudo, antes os homens passavam e as árvores ficavam, hoje o homem arranca e fica no seu lugar. Mas para perpetuar os nomes dessas árvores sagradas do sertão, veio o blogueiro Maltanet, que vem prestando um serviço incomensurável no sertão da Alagoas e alhures, com seu trabalho sério e comprometido com a sociedade, que ao lado de um número bom de cronistas, poetas e prosadores mantêm seu site como um dos mais lidos no Brasil, hoje, Maltanet. Sediado em Santana do Ipanema, vem recebendo da sociedade os melhores dos econômicos por seu trabalho correto e atualizado, e agora vem cada ano reunindo as melhores crônicas de seu site, e as enfeixando num valioso livro, e para perenizar essas árvores do tempo vem dando o nome delas aos livros em cada edição. Este ano, sabiamente, Maltanet, já selecionou as melhores crônicas, e batizou de À sombra da Quixabeira, numa homenagem justa e bem merecida. Vai daqui meu aplauso pela sublime idéia, pois é preciso que valorizemos as coisas boas e bonitas do sertão, exemplos como este precisam ser seguidos, para não deixarmos morrer os capítulos vivos de nossa história, em trabalhos realizados por sensíveis estudiosos, eles afirmam que as árvores se retraem ao sentir a lâmina em seu caule.

Sensível aos problemas das árvores, e morando pertinho de uma quixabeira, o poeta sem métrica, Colly Flores escrevem esta décima: “eu fiquei muito triste/ com o que aconteceu/ a Quixabeira do Gameleiro/ o ano passado morreu,/ muitas vezes em sua obra/ no verão eu descansei/ ouvindo os passarinhos/ suas quixabas chupei/ lembrando de tudo isto/ não teve jeito, chorei”.
*Antonio Machado é da ACALA e da AAI, além de pesquisador Olhod’águense.

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