Praticamente minha vida laboral começou por volta de 08 anos, ajudando meu inesquecível avô materno Mizael Farias, vendendo sal em pedra numa tolda que era armada nos dias da feira de minha querida terra, Santana do Ipanema. A localização do ponto de venda era nas proximidades da Casa Atrativa de Abílio Pereira de Melo, instalada no famoso prédio “do meio da rua”, que foi brutalmente demolido pelos inimigos dos monumentos históricos, verdadeiros assassinos da história. Na época, tinha vindo de Riacho Grande (hoje Senador Rui Palmeira) com a finalidade de dar prosseguimento aos meus estudos. Entretanto, o trabalho remunerado só veio acontecer nos idos de 1957, aos 14 anos, quando nossa família veio, em definitivo, residir em Santana.
Recém- chegado do Rio de Janeiro Zezinho Quirino, instalou um moderno mercadinho com uma feição diferente das mercearias tradicionais, como a de Seu Marinho (pai de Dr. Clodolfo) e a de tio Né Ricardo, entre outras. Os produtos vendidos no estabelecimento criado eram mais direcionados para a elite dominante, de então. Lá eram vendidos enlatados de salsichas, de camarão e de castanha, azeitonas, biscoitos e chocolates finos, vinhos de qualidade, queijos de várias espécies, etc. Correndo o risco de omitir nomes, vem a minha lembrança os freqüentadores nas pessoas de Dr. Luiz de Oliveira Souza, Dr. Fernando Dâmaso, Dr. Aloísio Sampaio, Mileno Ferreira (namorado de Maria das Dores, irmã do proprietário da loja), os irmãos Henaldo, Geraldo e Eraldo Bulhões (acadêmicos de direito), Aloísio Brandão, Darras Noya, Luiz Medeiros, Coriolano Silvério do Amaral (seu Carola), Genival da Estatística, etc. Pode ser dito que era um ajuntamento diário de intelectuais.
Continuando minha jornada laborativa, em outubro de 1959 fui, por convite do proprietário, trabalhar na loja de calçados de Seu Marinheiro. De lá somente saí em janeiro de 1965, para ingressar no Banco do Brasil, onde permaneci até minha aposentadoria em Recife, em março de 1993.
Durante o tempo em que permaneci na loja a que me referi acima, ía com freqüência à casa de “seu” Firmino Amaral e D. Anália, pais do meu novo patrão.Um excelente artesão na manufatura do couro, “seu” Firmino tinha uma fisionomia carrancuda, de pouca conversa, mas, em contrapartida, era muito respeitado e bastante considerado por todos os que privavam de sua amizade. Portava um vultoso bigode, que o tornava ainda mais sorumbático.
- “Pai Firmino só sai prá rua de paletó e gravata”, dizia com orgulho o neto Sebastião Amaral.
Quando a família Amaral chegou a Santana, oriunda de Tacaratu-PE, “seu” Firmino procurou informações sobre um barbeiro em quem ele pudesse confiar, e a escolha recaiu sobre Nézio Barbeiro. Na primeira abordagem, feita ao profissional da tesoura, o pretenso freguês deixou claro que não aceitava que seu bigode fosse aparado de navalha, apenas tesoura. Frequentou a barbearia escolhida durante 20 anos, segundo Sebastião. Numa das vezes o barbeiro, inadvertidamente, fez o retoque do bigode do freguês utilizando a maldita navalha. “Seu” Firmino ficou desapontado, saiu em silêncio e nunca mais retornou ao estabelecimento. Daí em diante deu preferência à barbearia de “seu” Sebastião Pacífico. O barbeiro Nézio, inconformado, se dirigiu à casa do insatisfeito cliente para saber sobre o ocorrido. “Seu” Firmino o atendeu com frieza e “disparou”, de chofre:
- Você deve estar lembrado que quando fui a primeira vez em sua barbearia avisei que não aceitava navalha no meu bigode. E não estou pronto a ficar repetindo isto todo dia.
Recife, janeiro/2010
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