FINALMENTE, QUEM BUFOU?

Crônicas

Antonio Machado

Na década de 1940, duas autoridades mandavam chuva na região; coronel José Lucena e Cônego José Bulhões, dos “Bulhões” de Entremontes.

Mais uma vez o povoado Pedrão é o cenário desta cena, que seria cômica, se não fosse trágica, porque não houve o enlace matrimonial.

Pe. Bulhões já chegou à capela do povoado atrasado e agastado como era de costume, como a querer colocar sua culpa nas costas dos outros. Sentou-se e iniciou as confissões. Zé da Pindoba Grande, rapaz novo,vindo de Pindoba, e aboletou-se em Pedrão. Moço afeiçoado, mas bonito que feio, arranjou um namoro com Tramelina, e resolveu casar. A moça muito “atirada” e caiu na conversa do namorado, e num derradeiro de maio, enquanto se rezava Maria Valei-me, Zé, tranquilamente “ficava” com a garota na beira da lagoa, e no embalo da brisa faqueira, foi “pêi bufo”.

No dia seguinte a filha contou à mãe que estava perdida do namorado. Foi à casa do inspetor de quarteirão, o cidadão Semião da Pedra da Viola,e lhe disse: “Seu inspetô, esta noite, o Zé da Pindoba Grande, passou a minha fia nos peito, e eu vim falá cum o senhor, mode ela casá”. Tudo acertado para o casamento, mas faltava a confissão do noivo. Já nos pés do padre, surge, sorrateiramente, um fedô de bufa. O calor estava insuportável na capela apinhada de gente. O padre se levantou e tapou a venta, o cabra fez a mesma coisa. Foi quando o padre diz: Você quer dizer que fui eu que bufei? “Eu não sei se foi você, só sei que eu não fui, retrucou o rapaz”. Um fedor de cassaco da gota serena, exclamou o padre; bem, não fui eu, retrucou o rapaz. Ambos em pé, e gritando por causa dessa bufa, que nenhum queria assumir.

Daí, foi quando o rapaz disse: eu vou embora, não vou mais me confessar, vou morar junto com minha noiva; noiva o que rapaz, perguntou o padre, porque você já comeu e tá com conversa, e quem lhe disse? Aí dona Donzília disse: “e cumeu mesmo, seu pade”.

E a confissão foi encerrada, e no dia seguinte, Zé da Pindoba Grande desapareceu e nunca mais voltou, e até hoje ninguém sobe quem bufou dos dois. Colly Flores, o poeta sem métrica, escreveu estas décimas que na época, causou abuso e intriga.

“Mode uma bufa das boas/ o casamento não aconteceu/ mas Zé da Pindoba comeu/ na beira da lagoa/ dentro de uma canoa/ que estava lá ancorada/ foi no cair da madrugada/ que o caso aconteceu/ depois disso ele correu/ e Tramelina ficou furada”. E concluiu o poeta: “Era uma amizade profunda/ que Zé tinha aquela menina/ quando via sua bunda/ se danava por Tramelina/ era um cacho de bunina/ carregado de fulô/ a ela ele tinha amor/ mas na hora da confição/ ouve a maior confusão/ e ninguém sabe quem bufou”.

*Antonio Machado é escritor, pesquisador, cronista e membro da Acala (Academia Arapiraquense de Letras e Artes), e da A.A.I (Associação Alagoana de Imprensa).

Comentários