Isso foi lá pelos anos setenta. Trabalhava na Junta do Serviço Militar de nossa cidade, como contínuo, Seu Arlindo. Era possuidor de uma bicicleta Monark, pela qual demonstrava profundo zelo. Essa veneração pelo seu biciclo rendeu-lhe, por parte dos moleques do monumento, um apelido que era capaz de tirar-lhe do sério : Arlindo da jeguinha.
Toda instrução que possuía, Seu Arlindo adquerira dos seus superiores que por aquela Junta passavam. Os militares também forneciam-lhes fardamento, dos quais não faziam mais uso. Fardas que ele passava a usar com muito orgulho.
Certa ocasião um major deu-lhe a seguinte aula:
-Está vendo a Bandeira Nacional, Seu Arlindo. Ela é o símbolo maior da nossa pátria mãe. Devemos respeitá-la como a nossa mãe! Entendeu!?...
-Sim major! Ela é a nossa mãe!
-E tem mais! No próximo 07 de setembro, o senhor vai desfilar, representando a Junta Militar, ao lado dessa bandeira!
E é chegado o grande dia. Lá vem Seu Arlindo, desfilando em carro aberto, no jeep da polícia. Posição de sentido, mão na bóina, ao seu lado a Bandeira Nacional. Ao chegar defronte da toca, um gaiato do meio do povo, grita:
-Arlindo da jeguinha!
Ele se vira pra o lado de onde veio o xingamento, Tira a mão da bóina. Dedo em riste, descarrega:
-A jeguinha é a rapariga da sua mãe! Maloqueiro fia da puta!
E virando-se pra bandeira de mão estendida em tom de súplica:
-Me perdoe minha mãe! Me perdoe...
Santana do Ipanema, 02/07/2009
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