O capitalista visa o aumento do capital. Veio da Europa a história do que se conhece como Capitalismo. Na peça do inglês William Shakespeare, O Mercador de Veneza, outro assunto não trata senão do capitalismo, embora a obra de Shakespeare (autor medieval) não se limite a única temática, diferente não foi na peça levada ao cinema, recentemente, por Al Pacino no papel do capitalista Shylock, Jeremy Iron no papel do mercador Dom Antonio.
A história do capitalismo em Santana do Ipanema, AL, medida as devidas proporções, não se diferenciou da história do capitalismo em quaisquer distâncias geográficas – mesmo o capitalismo tardio. Qual a origem do capitalismo? Não difere da chegada de uma mão-de-obra assalariada. Pois antes não se pagava salário como se popularizou, atualmente, na maior parte do mundo. O trabalho compulsório (para gente escravizada) era substituído, com advento do capitalismo, por trabalho mediante salário semanal, quinzenal ou mensal.
Interesse em riquezas sempre existira na história da humanidade. As inúmeras experiências sociais, econômicas e políticas demonstram como uma cidade enriquece, enquanto outras cidades se pauperizam. Quando Shakespeare escreveu a sua peça sobre aquele mercador de Veneza, uma cidade-Estado, não era antiga ainda a invenção do capitalismo. Qual a origem do capitalismo em Santana do Ipanema? Quando os primeiros comerciantes chegaram à cidade sertaneja com intuito em ficarem ricos, implantavam, conscientes ou inconscientemente, o gérmen do capitalismo em Santana. Certamente está presente nos comerciantes de gado, nos proprietários de prédios para aluguéis, naqueles que acumularam e acumulam dinheiro ou o que em dinheiro possa ser transformado. Chegaram a Santana do Ipanema instituições financeiras do porte do Banco do Brasil e outros importantes bancos estaduais e nacionais; o comércio e a indústria, embora insipientes; o exercício do capitalismo nas feiras livres da cidade aos sábados e quartas-feiras que preenche as ruas tendo como ponto de partida a praça defronte a igreja matriz Senhora Sant’Anna, padroeira dos santanenses.
Santana do Ipanema se beneficiou com comércio de grãos (milho, feijão e outros) para o Brasil e estrangeiro, através do mercado pernambucano (Recife) e grandes centros (São Paulo), além do algodão, quando implantou na cidade algumas beneficiadoras do produto (a exemplos dos empreendedores João Azevedo e Benício Silva). Outras atividades industrias que transformavam o milho em farinha (a exemplo de José de França), responsáveis por circulação de bens e produtos como um diferencial na região sertaneja e uma nova configuração à economia santanense.
Havia uma outra Santana, a Santana que mudou os seus hábitos de escambo para uma economia e política locais que até então o povo daquela urbe não havia experimentado, quando os lucros foram transformados em valores monetários. Muitos caminhoneiros levavam os produtos que chegavam à cidade, cujos produtores se utilizavam dos mais diferentes meios de transportes (carro-de-bois, muares, força humana) para trazerem as suas produções agrícolas especialmente à Rua Barão do Rio Branco (maior concentração de armazéns de compradores por metro quadrado), e vendê-las a José Cavalcanti Almeida (Zezito), Idelzuíte Melo, Walter Wanderley, Antonio Francisco Cavalcanti e outros comerciantes.
Nasceu a cidade de Santana do Ipanema por um bairro sem prestígio econômico nos dias atuais, cujo nome se mantém (Bebedor); onde surgiram as primeiras casas, ladeando o rio Ipanema, uma capela para demarcar o domínio católico, algumas bodegas. Estendera-se a cidade no bairro São Pedro, Centro, Monumento, Camoxinga, além de outros com suas características e importância. A cultura urbana poderia ter vivenciado experiências revolucionárias mais frequentes com implantação de um parque industrial; entretanto, com a ineficiência dos critérios estruturais (densidade demográfica, eleitores e outros) e dos critérios funcionais (educação, segurança, saúde, além de outras benfeitorias públicas) satisfatórios à urbe, Santana do Ipanema investia em pequenas farmácias, no mercado de secos e molhados, no comércio de Misael Alves Farias, que vendia sal (vocábulo que deu origem a palavra salário), na casa O Ferrageiro (iniciativa do comerciante Seu Fernando; posteriormente, Bartolomeu Barros). No status quo do estabeleshiment social, político e econômico santanense, se assim pode ser escrito, a cidade viveu momentos de crise; um exemplo da crise foi ter a cidade o título de Capital do Feijão, publicada na revista mais importante (O Cruzeiro) dos anos 1970.
Foi com a Revolução Industrial inglesa, no século XVIII, alguns séculos depois de Shakespeare, que a história pode se chamar de início da Era do Lucro e Acúmulo de Capital. É desta época o livro defensor da livre iniciativa (uma economia sem interferência estatal) do professor Adam Smith, “Riqueza das Nações”. Este sistema econômico chamado capitalismo, desde sua origem, sofrera em 1929, com a Quebra da Bolsa de NY, em 1973, com a crise do petróleo no Oriente Médio, e nesta primeira década do século XXI, com Crise Financeira Internacional. Para Karl Marx, autor de O Capital, além de outras obras filosóficas, o capitalismo estava ligado às condições econômicas e históricas; e os capitalistas aqueles detentores dos meios de produção. A Constituição Federal de 1988 estabelece como um dos direitos fundamentais a propriedade privada; a propriedade privada é uma das principais características do capitalismo. A divisão do trabalho como se conhece hoje – de um lado a mão-de-obra ou a fora de trabalho e de outro os meios de produção que alimentam, que vestem, além de outros – fundamenta-se no sistema capitalista.
Desde a chegada dos antigos sertanistas pernambucanos, advindos de uma das duas, entre as 15, capitanias hereditárias que prosperaram (Pernambuco), encantando-se com as riquezas do Rio São Francisco e beneficiados com a política colonial das sesmarias, estava sendo ocupado o território alagoano. Aqueles colonizadores sertanistas e os primeiros habitantes à beira dos rios (nativos Fulni-Ô, carijós), foram os únicos que testemunharam os irmãos Vieira fundarem a Ribeira do Panema – e todo o mais será mera especulação das memórias que formam um mosaico histórico de Santana do Ipanema.
Maria do Socorro Ricardo – www.historiografiaafricanas.blogspot.com
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