TENHO CERTEZA QUE EU SOU BOM! PERO NO MUY!

Crônicas

Sérgio Campos

Outro dia caminhava de forma descontraída pela cidade quando ouvi alguém gritar meu nome, era uma voz feminina, não precisei me curvar completamente para reconhecê-la. Tratava-se de uma senhora da zona rural, não a via há algum tempo. Imediatamente me fiz de surdo e tendo a certeza que a mesma não havia percebido que a teria visto apressei os passos, aquela não era uma boa hora para reencontrá-la. Num pequeno espaço de tempo meus pensamentos tinham sido vários. Buscava idéias de como me livrar daquele encontro indesejado.
A questão era a seguinte: três meses antes aquela pessoa havia me falado um dinheiro emprestado, o valor era um tanto quanto pequeno, como diz um velho ditado; "se o espírito não me engana," eram uns R$ 30,00 (trinta reais). A promessa de me pagar seria uma semana depois, algo que eu já tinha dado por perdido. E como não estava naquele instante com dinheiro suficiente para levar outra "ferrada" evitava o reencontro. A mulher sentindo que eu teria aumentado os passos cuidou de acelerar os seus. Logo, me alcançou e segurou-me pelo braço me chamando pelo nome. Não tendo alternativa, me virei com expressão de surpresa e "alegria" em revê-la. Ela esboçava um sorriso contagiante. Cumprimentou-me educadamente, e talvez imaginando que minha pressa fosse devido a algum compromisso falou sem perder tempo: "Sérgio, faz alguns dias que estou querendo lhe ver para pagar aquele dinheiro que você me emprestou," tirando da bolsa me entregou o valor combinado. Forçando um sorriso, meio sem graça, ainda lhe afirmei hipocritamente: "Que é isso, não precisava! já nem me lembrava disso!". Ela saiu toda satisfeita! Não sem antes agradecer com a certeza de ter cumprido seu papel de pessoa responsável.

Sai em sentido inverso com o pensamento fervilhando em dúvidas sem saber qual denominação daria à minha atitude. No primeiro momento senti vergonha, porém, como bom ser humano logo encontrei uma desculpa!

E minha culpa, minha tão grande culpa, em questão de segundos, se perdeu no espaço.

Quantos de nós já não nos perguntamos: "Eu sou bom ou mau"?

Essa é uma indagação que dificilmente fazemos. A dificuldade aumenta se a pergunta diminuir: "Eu sou mau"?

No entanto, se quisermos ver a historia mudar imediatamente de figura é só alguém nos indagar sobre o próximo. Nesse caso nossa fertilidade mental para falar mal é extraordinária.
- Fulano? Aquele não vale nada!

- E Beltrano? Nem me fale...

- Eu não! Não tenho orgulho, inveja, ciúmes! Não sou avarento, traidor, preconceituoso e nem corrupto.

"O inferno são os outros"! (Dante Alighieri)



"A bondade é um espelho que caiu do Céu e se quebrou. Cada um recolhe um pedaço e diz que toda a bondade está naquele caco". Ditado Popular.

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