A “família dos Bius” era conhecida por toda a população santanense pela maneira “sui generis” com que executava a sua única profissão: desentupidores/esvaziadores de fossa. Pai, mãe e filhos eram alcoólatras assumidos e não tinham nenhum preconceito com nada do que executavam. E o faziam muito bem e barato, por isso eram bastante procurados por toda a sociedade santanense de qualquer nível socioeconômico.
Uma das “medidas” que usavam para orçar os seus serviços era o “mergulho”. Tapavam o nariz, fechavam a boca e os olhos e mergulhavam literalmente dentro do “cocô”. Até o joelho, cobrava-se um preço; na cintura, outro; no pescoço, o valor ia aumentando, finalizando com o ato do mergulho total, que cobria todo o indivíduo; este era o preço mais alto, muito justo!
Claro que, para essa avaliação, havia sempre um ritual: sentavam-se em volta do futuro serviço para planejar a maneira mais rápida e eficiente de executar a “obra”, sempre acompanhados de garrafas de qualquer aguardente, principalmente aquela “rinchona”, pois era a mais barata e o efeito, muito mais rápido.
Nem sempre conseguiam cumprir o cronograma original, pois geralmente abusavam na ingestão do precioso líquido e perdiam a noção de tudo por completo. Mas isso não era problema porque o importante mesmo era encher a “cuca” e, ainda por cima, receber algum numerário para a sobrevivência da família.
Era uma família que misturava todos os hábitos de vida no seu dia-a-dia. Todos dormiam num mesmo ambiente mesmo porque o casebre onde moravam só tinha um cômodo. Costumavam, por força do vício, promover verdadeiras farras em família, que duravam enquanto o minguado dinheirinho, proveniente de seus trabalhos, não acabava.
Numa dessas farras, à noite, caíram em sono profundo. De repente, a matriarca da família acordou e percebeu que alguém estava em plena atividade sexual com ela. Estranhou, pois tinha estado dormindo, mas não tomou nenhuma atitude para impedir aquele ato.
A certa altura notou algo diferente no parceiro e resolveu colocar tudo em pratos limpos. Perguntou sussurrando: - Zé, tás neu?
- Eu não! - Respondeu o marido, um pouco afastado da consorte.
E ela, atônita:
- Então tão!
Era o filho que, sob o efeito do álcool, também não sabia onde estava “localizado”.
Durante muitos anos, essa família prestou os seus serviços à comunidade santanense, sendo aos poucos dizimada pela ingestão etílica elevada e diária. Ficaram as lembranças das suas proezas e dos seus atos, criticados por uns e por outros não, pois apenas viam o exagero provocado pelo vício, mas tudo sem maldade.
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