CRESCEMOS JUNTOS COM NOSSOS FILHOS?

Contos

Lúcia Nobre

Ricardo viveu apenas vinte e cinco anos e só ele sabe o quanto lhe custou vivê-los. Vivia sua família em desarmonia. Sua irmã e sua mãe tanto o influenciaram contra o cunhado que fizeram dele um inimigo mortal. Planejaram a morte do rapaz. Ele não servia mais. Sua irmã queria viver, ouvia isso todos os dias em casa. Ela era jovem, cheia de vida e o marido só vivia trabalhando, não tinha tempo de se divertir, viajar.
Combinaram Ricardo e sua mãe, que tirariam o marido de sua irmã, de suas vidas. Ricardo concordava com a opinião das duas. A mãe e a irmã estão certas, pensava ele. Pensou tanto que, uma certa noite, esperou o rapaz na porta do trabalho e o matou. Alarme geral na família. Morre um jovem senhor, pai de filhos. A mãe desses filhos, ao planejar a morte do marido, foi estupidamente egoísta, pensara nela apenas. Os filhos ficaram sem o pai. Livra-se ela do marido. Está feliz? Os filhos estão felizes? Começa o drama familiar. Filhos contra mãe e mãe contra filhos. Ela está livre. Que liberdade? Quem será o acusado da morte do marido? Ela? O irmão? Os filhos, revoltados, procuram a família do pai, e, pouco tempo depois Ricardo morre, também, na porta do trabalho, tal qual o cunhado. Resta saber se esta família conquistou sua liberdade.
Nesse caso de Ricardo, a família influenciou negativamente em seu comportamento. Achava ele, que tinha obrigação de fazer o gosto da irmã. Viveu na mentira, na hipocrisia, no desamor. Viveu? Alguém pensou em sua felicidade? Ou eram tão insensíveis a ponto de não pensarem nas conseqüências, no caso dele cometer um assassinato?
A verdade é que Ricardo troca sua vida pela morte, para satisfazer um capricho, que nem era dele. Este é apenas um exemplo de um caso acontecido em uma família que não incutiu nos filhos um sentimento bom, um sentimento de honestidade, dignidade, liberdade. Sim, liberdade. Muitos pais acham que se o filho tiver liberdade, não fará as “coisas certas”. Para eles, os filhos terão que ser, só obedientes. Façam isso, façam aquilo! Ditam normas e estas não poderão ser contestadas.
Talvez, se Ricardo tivesse sido educado de maneira saudável, não se sentiria na obrigação de sacrificar a vida de seu cunhado, e conseqüentemente, a sua. Algumas vezes o encontrei chorando, homem feito, mas totalmente dependente de sua família. Desabafava comigo, uma simples colega de trabalho. –Eu não aquento mais viver naquela casa, as reclamações são tantas, que meus ouvidos não suportam.
Observava, em poucas horas de convívio, que Ricardo não era um rapaz feliz. Era bonito, inteligente, realizado profissionalmente, no entanto, faltava-lhe uma força de caráter, característica primordial ao ser humano.
Na época em que matou o cunhado, eu não era mais sua amiga. Percebi que não era uma pessoa sincera. Afastei-me. Existem ocasiões em que se quer ajudar alguém e este quer ser ajudado. Outras, serão inúteis as tentativas no sentido de querer ajudar.
Ricardo não viveu muito, sabemos. Sua vida foi interrompida estupidamente. Não podemos afirmar as coisas com certeza, não somos os donos da verdade, contudo, continuo com a mesma idéia que uma família terá de ser bastante estruturada, para que os filhos sejam, pelo menos, equilibrados. E o mais importante, que sejam livres e felizes.

Maceió -AL, Novembro/2006

Conto Publicado em 20/11/06

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