O SACERDOTE PODE ATÉ SE SENTIR HUMANAMENTE SÓ, MAS SEMPRE TERÁ A COMPANHIA DE CRISTO

Pe. José Neto de França

Outro dia, lendo o artigo, “Os padres se sentem sozinhos?” postado no site https://pt.aleteia.org, fiquei a refletir sobre a figura do sacerdote no mundo atual. Não poderia ser diferente. Sou sacerdote diocesano e vivo na própria pele esse dilema do estar humanamente só.

Entre um pensamento e outro, veio-me a memória uma frase que Dom Fernando Iório Rodrigues (in memoriam), terceiro bispo de Palmeira dos Índios, falou durante as exéquias de um padre que havia cometido suicídio, dessa mesma diocese: "A pior coisa do mundo não é o abandono, mas a solidão, fruto desse abandono... Essa corrói o existir humano levando-o a desinteressar-se pela vida..."

Quantas vezes não me sinto humanamente só! O grande número de fiéis presentes em cada celebração, encontro... após estes, cada um retornam às suas famílias... O que instantes antes eram companhia certa, agora somente eu e Deus... e ninguém mais!

Uma das coisas que atribula o sacerdote, às vezes levando-o ao isolamento, é a incompreensão dos fiéis. A maioria deles confundem santidade, fidelidade, amor a Deus com permissividade ou atitudes que lhes agradem, independentemente se estas possam ser necessárias, lícitas ou não, do ponto de vista cristão, ético, moral... Não levam em consideração que “é preciso obedecer a Deus antes que aos homens” (At 5,29). Esquecem-se que administrar não é brincar, agir por interesse pessoal ou grupal. Para esses tipos de fiéis, ser bom é ser permissivo, desde que lhes agrade, claro.

Já em relação a colegialidade do clero, por mais que se diga que ele forma uma espécie de “família”, na prática existem as afinidades. E, é em função dessas afinidades que ele, o clero se dinamiza internamente. Existe aqui o risco daqueles que são mais introvertidos, pensarem diferente, ou por estarem envelhecendo a se isolarem... Isso pode se dar por várias razões. Entre elas, o “esquecimento” proposital ou não dos “afins”...

Nos meus mais de vinte e três anos de vida sacerdotal já ouvi reclamações e já presenciei o sofrimento de sacerdotes idosos ou mesmo novos, por conta dessas questões...

É nesse momento que o sacerdote precisa está bastante fortalecido naquele que tudo pode: Jesus Cristo!

Daí a necessidade dele se fortalecer cada vez mais na sua espiritualidade através da Palavra de Deus, dos sacramentos, da oração da Liturgia das Horas e das suas devoções particulares... Sem isso ela não suportará, jamais, a pressão.

Aqui surge uma pergunta: - Então o sacerdote não é uma pessoa feliz? Respondo: - Vai depender dele. Se levar sua vocação a sério e colocar sua confiança no Senhor, certamente que será feliz. Eu sou! Não é fácil, mas sou. E por uma razão: saber que não foi eu que escolhi sê-lo, mas fui escolhido por Cristo. Saber que, com todos os meus defeitos, Deus me ama e me aceita. Saber que meu sacerdócio não é meu, mas daquele que confiou e confia em mim. Cristo Jesus. Ter a certeza que Ele estar e estará sempre comigo.

Humanamente, em muitos momentos, como afirmei, o sacerdote irá se sentir só. Mas, uma vez fortalecido em sua espiritualidade, sempre sentir-se-á acompanhado da companhia mor: Jesus Cristo!

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