A INJUSTIÇA NÃO EDUCA, MAS INDUZ AO CRIME

Pe. José Neto de França

Nos tempos contemporâneos, a expressão "justiça injusta" ganha cada vez mais relevância diante das diversas distorções que comprometem a credibilidade do sistema jurídico e da convivência social. Em um cenário de crescente polarização, observamos a tendência perigosa de "cancelar" aqueles que pensam diferente, além da violência política que se manifesta nas tomadas de partidos e na repressão aos chamados oponentes. Este quadro é ainda agravado pelas brechas na lei que favorecem os mais abastados, a parcialidade nos julgamentos e a falta de imparcialidade de quem tem a responsabilidade de julgar. Juntas, essas questões não apenas minam a justiça, mas alimentam um ciclo de criminalidade e desconfiança.

A cultura do “cancelamento” deslegitima o diálogo e a convivência pacífica. Em um ambiente onde vozes divergentes são silenciadas, quem se sente pressionado a alinhar suas opiniões com as da maioria acaba adotando comportamentos que podem levar a delitos. O medo de ser cancelado gera conformismo, levando à intolerância e ao radicalismo. Essa repressão ao pensamento crítico não educa, mas sim deseduca, gerando frustração e podem levar indivíduos a ações extremas, em resposta à exclusão social.

A violência política reflete essa desintegração social, onde a tomada de partidos não se dá apenas no plano das ideias, mas também no campo da agressão física e verbal. Ao tornar os opositores alvos de ataques, legitima-se, na mentalidade de muitos, o uso da força como meio de convencer ou eliminar divergências. Essa atmosfera tem um impacto profundo na maneira como a justiça é percebida e aplicada, uma vez que o conflito se torna um meio de “justificar” ações violentas sob uma suposta moralidade.

Além disso, as brechas na lei favorecem aqueles que têm poder aquisitivo, resultando em um sistema judicial elitista. Indivíduos com recursos significativos podem escorregar entre as malhas da justiça, enquanto os menos favorecidos são frequentemente submetidos a punições severas, mesmo por crimes menores. Este desequilíbrio gera um profundo sentimento de injustiça e revanchismo, levando muitos a acreditar que a única forma de garantir direitos é através do crime, além de desestabilizar a fé nas instituições de justiça.

A parcialidade nos julgamentos é outro grande aspecto que compromete a legitimidade da justiça. Quando os juízes ou os agentes do sistema judicial demonstram preferências pessoais, políticas ou sociais, a equidade é comprometida. Isso faz com que as pessoas vejam a justiça como uma extensão das lutas de poder, onde as decisões são tomadas com base em preconceitos e opiniões, e não em fatos ou leis. Esse cenário cria uma desconfiança ainda maior no sistema, desencorajando a colaboração e a crença em um futuro mais justo.

Por fim, a suspeição em quem julga é um fator que agrava ainda mais a situação. Quando a imparcialidade é posta em dúvida, a própria base do sistema judicial se torna instável. Juízes e promotores, se percebidos como tendenciosos ou parcializados, não apenas deslegitimam suas decisões, mas também se tornam parte de um ciclo vicioso em que a justiça é vista como uma arma de opressão. Essa dinâmica gera um ambiente onde o crime se torna uma opção atraente para muitos, que não se sentem representados ou protegidos pela lei.

Em resumo, a justiça injusta é uma ferida aberta na sociedade, que não educa, mas induz ao crime. Para restaurar a confiança nas instituições e promover um ambiente mais seguro e equitativo, é imperativo que haja um compromisso com o diálogo, a equidade e a verdadeira justiça. Somente assim poderemos quebrar esse ciclo pernicioso e construir uma sociedade que valoriza o respeito, a inclusão e a verdadeira justiça para todos.

Enigmas da vida!

Pe. José Neto de França
(Sacerdote e Nutricionista Integrativo – CRN/AL nº 43951)

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