Diário de um Caipira - Chipre

Manoel Augusto



DIÁRIO DE UM CAIPIRA PELAS RUAS DE PARIS
ENSAIO XXV
CHIPRE
Não me passava pela cabeça algum dia fazer uma viagem a Chipre, dadas as questões políticas do País, sua localização e as poucas informações que detínhamos.
Entretanto, um sobrinho que mora em Londres apaixonou-se por uma jovem cipriota que também é radicada na Inglaterra e nos convidou para o casamento que viria a se realizar na capital Nicósia. Prontamente aceitamos, e a incluímos no roteiro que havíamos traçado para um “tour” pela Turquia e Grécia.
Ao chegarmos a Chipre nos deparamos com alguns entraves e até inconveniências que ignorávamos. A República de Chipre se situa numa ilha de 9.251 km2 , pouco menos de 2 vezes a área do Distrito Federal (cerca 5.000 km2), ainda assim dividida em 2 “Estados”: Setor grego e setor turco.
A divisão da ilha já dura mais de 40 anos e foi provocada pela derrubada do Arcebispo Makarios III (que governava o País), pela Guarda Nacional Cipriota em 1974, ensejando a invasão do Norte da Ilha, cerca de 40% do território, pela Turquia, que aí instalou o Estado Federado Turco.
Descemos no aeroporto localizado no setor turco e para chegarmos a Nicósia, no setor grego, tínhamos que passar por uma seqüência de barreiras policiais , com burocracia e quase sempre com demora exagerada. Toda a Ilha tem uma população em torno de 1.100.000 habitantes.
A sua localização no leste do Mar Mediterrâneo a torna estrategicamente um dos centros do transporte marítimo internacional, o que a faz o País – setor grego, ter um PIB superior a US$ 23 bilhões e uma inflação de 2% a.a. A moeda corrente é o EURO.
A ilha de Chipre é aprazível, com auto estradas bem conservadas e ornamentadas com flores, tornando as viagens agradáveis. Visitamos as principais cidades do setor grego: além de Nicósia, Limassol e Larnaca. A presença humana em Chipre remonta a mais de 10.000 anos e com a sua localização estratégica, faz parte ativa da história antiga que envolve os povos mediterrâneos e suas influências.
No século XIV a.C., foi colonizada pelos missênicos depois denominados de assírios, egípcios e persas . Posteriormente, meio século a.C., é dominada pelo Império Romano e 350 anos depois incorporada ao Império Bizantino. No final do século XII foi conquistada por Ricardo I da Inglaterra se transformando em base das Cruzadas. Nos dois séculos seguintes Chipre é dominada pelas cidades de Gênova e Veneza, que a transformam em posto de comércio com o Oriente. Em 1571 foi incorporada ao império Turco- Otomano. Em 1878 foi transformada em Colônia Britânica, sob o argumento de protegê-la do expansionismo do Império Russo. Outras revoluções se seguiram e o domínio da ilha foi disputado por várias Nações. Inclusive no momento, encontra-se dividida, como falamos antes.
Em Nicósia, após passarmos pelas barreiras militares (turca e grega, com presença de militares da ONU), fomos direto para o hotel, arrastando as malas (pelos corredores militarizados) por quase um quilômetro, até nos sentirmos livres no terraço do Holiday In. O casamento seria no dia seguinte, aproveitamos a noite para curtirmos a gastronomia Greco – cipriota, acompanhada de doses musicais e de humor grego. No dia seguinte a tarde, viria a se realizar o casamento do nosso sobrinho (Tiago Augusto) na Catedral Ortodoxa Grega, em cujo momento satisfizemos a nossa expectativa ao conhecermos a beleza física do Templo Sagrado e do ritual matrimonial. A cerimônia comandada pelo sacerdote é também de responsabilidade direta do padrinho. O noivo com um padrinho e a noiva com uma madrinha – a família do noivo do lado esquerdo e da noiva do lado direito. O noivo e a noiva recebem coroas singelas brancas (arcos com flores), postas nas respectivas cabeças, unidas por uma fita branca. Os noivos tomam uma taça de vinho giram em volta da mesa com o celebrante a frente. Os pais e avós beijam os noivos ainda na cerimônia. Concluída a cerimônia, os noivos recebem os cumprimentos dos demais familiares e convidados, seguindo todos para a comemoração festiva do casamento, no caso, na mansão dos pais da noiva, num belo Jardim em frente a residência. Aguardávamos uma animada dança com quebra de pratos, que não houve.
A recepção foi calorosamente social e discreta, com apresentação informal dos convidados (ingleses, cipriotas, gregos e nós brasileiros. No dia seguinte, os noivos juntamente com os convidados jovens foram a praia, enquanto nós familiares dos noivos fomos conhecer alguns pontos turísticos e saborear a gastronomia tradicional da Ilha de Chipre, vivenciando um pouco da sua história, contada orgulhosamente pelos cipriotas. E assim comprovamos que realmente a Ilha de Chipre é a terra de Afrodite, “A DEUSA DO AMOR”.

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