DIÁRIO DE UM CAIPIRA PELAS RUAS DE PARIS
ENSAIO XXIV
TURKEI II
GIRO PELO INTERIOR
Depois de alguns dias em Istambul, alugamos um carro e seguimos em direção ao interior, ao longo da costa “européia” do Mar de Marmara, até Gelibolu; atravessamos para Canakkale onde visitamos o sítio arqueológico de Tróia (Truva) e dormimos em Ayvacik. No dia seguinte visitamos as ruínas do templo de Atenas em ASSOS, as margens do Mar Egeu, e descemos pela costa até EFESUS, que foi no passado distante uma das maiores cidades do chamado Mundo antigo. De lá visitamos a casa onde viveu a “Virgem Maria”, MÃE DE JESUS, em MERYEMANA e ao pôr do sol fomos conhecer PAMUKKALE:
“Pamukkale (castelo de algodão em turco), é um conjunto de piscinas termais de origem calcária, brancas como a neve, formando uma paisagem suigênere e maravilhosa, que com o passar dos séculos formaram bacias espraiadas de água, que desce em cascata numa colina, situado próximo a Denizli, na Turquia”.
Foi uma viagem fascinante e inesquecível. Estávamos em família, com a minha mulher Elba, minha filha Anna Victória e meu genro Fábio Shoyama, ambos arquitetos e muito focados nas relíquias arquitetônicas da Turquia. Foi de certa forma uma viagem de aventuras e de atualização e recordação da história, uma vez patente a dificuldade até para leitura dos mapas da região, todos em língua turca. Chegamos a errar a estrada em alguns momentos, mas tudo era novidade, corrigíamos a seguir. Num dado momento entramos na cidade de Bursa e ao sairmos nos orientaram a seguir por uma vicinal para encurtarmos o caminho. Alguns quilômetros adiante acabou o asfalto, seguimos numa pista de terra até chegarmos a uma fazenda, lá nos receberam com certa desconfiança, cerca de uma dezena de homens armados, alguns com facões a mostra. Ficamos um pouco apreensivos no inicio, porém depois nos tranqüilizamos quando nos indicaram outra variante para chegarmos a estrada principal, não sem antes nos cobrarem pedágio. Até hoje me pergunto: “porque tantas armas” ? Seriam membros da “Alkaeda” ou Estado Islâmico? Quanto aos facões, quem sabe não estavam treinando alguma “tradicional dança gaúcha”!!! ??? Foi aí que nos demos conta de que a rota turística mais usada era exatamente a oposta da que estávamos a fazer. Na verdade, cometemos o erro maior na saída de Istambul, quando deveríamos ir para Ankara (Capital do País, na Anatólia Central), de lá, a seguir Capadócia, Nevsheir, Pamukkale, Ephesus, Afrodísias, Kusadasir, Canakkale, Troy e finalmente retorno a Istambul. Mas isso não nos preocupou tanto, apesar do susto, afinal traçamos uma nova rota turística, talvez mais surpreendente que a costumeira. Em alguns vilarejos parávamos para fazer lanches, atraídos pelas frutas maravilhosas nas barracas às margens das estradas (romãs, melancias e outras da região) e pelas paisagens exóticas, não tão comuns no nosso País!
Retornando a Istambul, tomamos o avião para a Ilha de Chipre para cumprirmos uma agenda social e alguns dias depois retornamos a Turquia, dessa feita para a cidade de ADANA. Novamente alugamos um carro e seguimos em direção a Capadócia. De passagem fomos conhecer a cidade de TARSUS, “Paulo de Tarso” ou São Paulo. Dormimos em Soganly e no dia seguintes seguimos para Göreme, Derinkuyu, Sehir e a cidade dos Hititas Kaymakly e conhecemos Urgup, onde fomos surpreendidos com uma chuva de granizo em pleno meio dia, forçando-nos a abrigarmos em uma caverna por quase uma hora. Ainda no percurso, conhecemos Kultepe, Pinarbasi, Goksun Kahramaumaras e o parque arqueológico de Karatepe, forte HITITA onde se acredita tenha sido a residência do rei hitita de Adana, Azatmatas.
E assim chegamos a Capadócia, nosso objetivo maior, lá passamos dois dias entre Ushisar e Göreme, nos hospedamos num hotel de caverna, bem ventilado, higiênico e atrativo, inclusive com acesso fácil a internet . No dia seguinte fomos voar de balão, eram dezenas de balões e milhares de turistas numa manhã de sol brilhante. Os vôos se iniciam por volta da 6:00 e levam cerca de 50 a 60 minutos sobrevoando a região, ao preço de 150 Euros/pessoa, cerca de R$ 500,00. Foi uma magnífica experiência . O vôo foi normal, porém ao aterrissar, o balão em que eu estava (milha mulher e minha filha e genro estavam em outro balão), sofreu uma pancada de vento e se deslocou cerca de um quilômetro do local de pouso e tombou próximo a uma área pouco acessível. Em principio não percebemos nada de “tão” anormal, até tocar o chão. Logo vieram as equipes de apoio, com trator para rebocar o balão e nos transportar para a base de pouso dos balões. Nada de ferimentos, todos saímos ilesos e tranqüilos. Apesar desse imprevisto, valeu a pena navegar pelos ares da Capadócia. A paisagem lá de cima é única no Planeta, é fantástica, sem nenhuma dúvida uma das maravilhas da natureza. Enquanto o desejo de aventuras se confunde com a sensação de liberdade, aquela em que você se sente “livre pra voar”, a pressão da adrenalina faz aumentar o frio na barriga, principalmente para quem tem medo de altura, mas o importante é se concentrar na paisagem terrena com seu relevo atípico e nos balões girando a sua volta.
A Capadócia, é uma região diferente com uma história de lutas, guerras e sucessão de reinados, é uma região mística, pela diversidade da cultura religiosa dos primeiros séculos da era Cristã. Os primeiros anos do Cristianismo foram marcantes na Capadócia, segundo alguns historiadores, pela proximidade das Sete Igrejas da Ásia, relatadas no Novo Testamento e também em face da primeira comunidade Cristã fundada por S. Pedro, na Antioquia, hoje Antakia.
Nos registros históricos constam que São Paulo foi outro apóstolo que esteve pelo menos 3 vezes na Capadócia, entre os anos 48 e 58 da era Cristã, com suas pregações sobre o Cristianismo. O relevo da Capadócia formado por centenas de Cavernas que constituem até hoje as chamadas cidades subterrâneas, com 3, 4, 5 e mais níveis, serviram de refúgios aos primeiros cristãos perseguidos naquele período. Hoje, muitas dessas cavernas servem de moradia aos habitantes locais e também em muitas delas são instalados hotéis, Igrejas e casas comerciais. Além de São Jorge que se afirma, “segundo a lenda”, ser natural da Capadócia, apesar de sua mãe ser originária da Palestina, terra para onde ele foi ainda em criança, outros Santos surgiram nos primeiros anos da era Cristã: São Mamede, São Gregório de Nisa, São Basílio Magno e tantos outros apontados como responsáveis pelo desenvolvimento da doutrina da Trindade – Cesario de Nanzianzo, Gregório de Nanzianzo, o velho e o novo. Outro personagem importante, o clérigo João II da Capadócia, Patriarca de Constantinopla nos anos 518 à 520 em cujo período marcou o fim do cisma de 34 anos entre as Igrejas Orientais e Ocidentais. Afirmam historiadores que a lenda de São Jorge e o dragão projetou-se na Idade Média tornando-o padroeiro de diversos Países e regiões da Europa: Inglaterra, Portugal, Geórgia, Sardenha, Aragão, Barcelona, Genova e Pádua entre outras. Senti-me na Turquia como se estivesse na lua ou em outro planeta, pelas peculiaridades do relevo e pela maravilhosa e singular paisagem de Pamukkale, além claro das dezenas de parques históricos que nos transportam a milhares de anos atrás. Cada área da Turquia representa um ponto significativo, curioso e deslumbrante da história, presentes desde o Velho Testamento. Entre esses pontos destaca-se o Monte Ararate, em turco: Ağrı Dağı; com dois picos: Grande Ararate com 5.137 metros de altitude e o Baixo Ararate com uma altitude de 3.896 metros. O maciço do Ararate tem de cerca de 40 km de diâmetro,2 local onde teria ancorado a ARCA DE NOÉ, segundo consta no livro do Gênesis.
Em face de compromissos agendados para os dias seguintes em Bodrun e Ilhas gregas de Kós e Rodes, adiamos a visita ao Monte Ararate, para uma outra viagem a Turquia, país que nos conquistou pelas suas belezas peculiares e pela sua história.
Ao regressarmos a Adana, tomamos avião para Bodrun na costa do mar Egeu. Ao amanhecer nos surpreendemos com as características urbanas da cidade. Parecia que estávamos nas ilhas gregas - Santorini por exemplo, com sua elevada densidade urbana nos morros, numa visão espetacular de beleza das construções, brancas como a neve, o anverso dos nossos morros cariocas e de outras cidades brasileiras.
Bodrun, originalmente Halicarnasso, cujo MAUSOLÉU de halicarnasso e o templo de Artêmis em Éfeso, são duas das 7 maravilhas do mundo, é uma pequena cidade com uma população fixa em torno de 40.000 habitantes, apelidada de “dormitório da Europa”, porém, é um movimentado centro turístico e náutico (recebe centenas de milhares de turistas todos os anos) com uma costa maravilhosa e animada vida noturna, com localização privilegiada na península de Bodrum, próxima da entrada noroeste do golfo de Göcova em frente a ilha grega de Kós. De Bodrun seguimos de navio para a ilha de Kós e em seguida Rodes e Atenas. Foi uma viagem maravilhosa, porém com alguma tristeza em face da derrota ( 2 X 1) da Seleção Brasileira de futebol para a Holanda. Estávamos jantando, melancolicamente, num restaurante panorâmico na Ilha de Kós e assistindo ao jogo pela televisão, quando gritamos no gol do Brasil, todos no restaurante se viraram pra nós e começaram a rir... só nos restou cumprimentá-los discretamente e sairmos de fininho curtindo a nossa decepção pela derrota.
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