“Eu já fiz pouca merenda. Agora eu vou dar bem o meu prato pra você comer! Acabou a merenda, pode ficar com fome. Minha comida eu não dou”. Disse a auxiliar de serviços diversos que trabalha também como merendeira. Estava na cozinha juntamente com outra auxiliar e uma professora.
Existem escolas que primeiro os funcionários e professores lancham para depois os alunos lancharem. Não que os profissionais não possam lanchar, mesmo sabendo que segundo a orientação, a merenda escolar é exclusivamente para o aluno, mas não impede que os servidores também possam se alimentar. O que não pode acontecer é o aluno ser colocado em segundo plano e a prioridade ser o servidor.
Deparamo-nos com realidades semelhantes a essa ou em alguns casos piores. Quando há merenda e quando a merenda é feita parece que o aluno não é a prioridade. A insatisfação pelo emprego, como afirmara essa mesma auxiliar que tinha feito o concurso para auxiliar, mas odiava o trabalho, leva a educação a patamares horríveis de qualidade.
Não há uma orientação, fiscalização, ou seja, que instrumento usar para manter o controle ou a atualização dessa realidade. Se não há água na escola, ninguém diz nada para não fazer a merenda. Merendas servidas com muito atraso e higiene discutivelmente inaceitável.
Se o cardápio é instruído por nutricionistas não vai fazer muito efeito na saúde das crianças porque ele não está sendo seguido em sua maioria. Intrigas no setor de trabalho, um servidor acusando o outro de não limpar a escola, de ser preguiçoso e toda essa intriga desencadeia um relaxamento de todos sempre atribuindo ao outro a responsabilidade.
A educação é uma teia de relações. Todos os profissionais envolvidos nela dependem um do outro para que ela aconteça. Ninguém é melhor que alguém nesse processo. Apenas cada um tem responsabilidades diferentes, mas que todas dependem uma da outra para se realizar.
Ao final de tudo, percebemos que o maior prejudicado será sempre o aluno. O aluno se torna vítima de uma família desestruturada, como também é vítima de um(a) vigilante arrogante que o trata mal logo na entrada da escola, vítima também de um(a) auxiliar insatisfeita com a profissão o deixa sem merenda, como também é vítima de um professor que não queria ser professor, que lhe falta preparação, motivação e entusiasmo e que “desconta” suas frustrações no aluno.
Acredito que o único direito que ele tem é o de ser “contado” como “cabeça” no censo escolar para garantir mais rendimentos para estados e municípios. Reflitam sobre que tipo de sociedade teremos no futuro com um descaso desses hoje.
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