NÃO ESTÁ TÃO DISTANTE DE NÓS

Luciene Amaral da Silva

NÃO ESTÁ TÃO DISTANTE DE NÓS

Quase todas as manhãs quando ligamos a TV para ver o noticiário nos deparamos com mais uma noticia trágica de uma pessoa que morreu por falta de atendimento nos hospitais principalmente do Rio de Janeiro e muitas vezes não temos nem tempo de pensar naquela situação que muitas vezes achamos normal.

Isso acontece por não estarmos na situação do outro e sendo assim não nos comovemos com o outro. Vemos também na TV a revolução ‘justa’ dos médicos por não quererem mais atender pelos planos de saúde. Estes cobram fortunas dos segurados e no entanto o repasse para os médicos é vergonhoso. Já existem poucos médicos, que na maioria cobrando preços altíssimos pelas consultas, recebendo pouco dos planos de saúde e há os que trabalham no setor público sem condições para desempenhar a medicina além daqueles que ainda negligenciam atendimento.

Na tentativa de acreditar que era uma realidade distante da nossa, tentei marcar uma consulta de urgência pelo convenio, só havia vaga para fevereiro de 2012, mas se fosse ‘particular’ com um valor de 200,00 foi marcada para dia 24 de outubro, ou seja, já foi realizada. Não está distante de nós a situação dos planos de saúde, isso a minoria que ainda atende pelos convênios.

Mas, imaginando que era apenas essa realidade que não estava distante, fui a um determinado hospital que atende pelo SUS, Convênios e Particular, os três serviços e então estava ao lado de uma família que estava em desespero por não haver UTI disponível para abrigar a paciente em questão, citaram a dificuldade em meio ao desespero pelo qual passavam que para internar a paciente em uma rede privada precisariam de um calção (garantia) de 10.000,00 para garantir a entrada na UTI e doença é algo que ninguém se prepara financeiramente para ela, quando vem, geralmente é uma surpresa para todos e era o que acontecia com aquela família, dentre as demais que também estavam em aflição. Só restava rezar para que a paciente não morresse.
Não era Rio de Janeiro, era agreste e sertão do estado de Alagoas. Estamos todos doentes e pela primeira vez podemos entender o que significa sistema. O sistema está doente, pacientes, médicos, hospitais, governo, todos que são responsáveis pela saúde estão doentes, uns mais e outros menos. Vemos clínicas abarrotadas de pessoas que pagam caro pelo atendimento e são mal atendidas. Presenciei ontem uma senhora que há mais de 5 horas esperava na clinica para ser atendida e como o tempo não dava mais saiu chorando sem atendimento, pois precisava ir ao hospital para fazer hemodiálise e as 17:30 ainda não tinha almoçado e tinha sido tratada sem humanidade.

Para não cometermos o pecado de apenas mostramos um lado da moeda, precisaríamos ouvir os médicos, enfermeiros e técnicos, os pacientes e suas famílias, os planos de saúde e o governo, pois assim, contemplaríamos todas as visões e buscaríamos entender como se sai dessa grande DOENÇA que é a negligencia. Somos todos culpados vítimas de nós mesmos, desde o momento que sabemos o que temos que fazer e não fazemos. O paciente que sabe que seus hábitos de vida podem lhe garantir a saúde ou a doença, mas não se importa ao profissional de saúde que sabe o que deve ser feito e não faz, que pelo menos tenha a humanidade de tratar bem um doente e sua família, aos planos de saúde que poderiam aumentar o repasse, mas não fazem por que isso não dá lucro, aos gestores, por acompanharmos nos noticiários os bilhões repassados e desviados.

A corrupção é nossa maior doença que aos pouco nos matam em velocidade maior que as doenças fatais. A corrupção não é apenas um ‘privilégio’ de quem governa, ela é avassaladora e atinge a todos, desde a não devolução de um troco errado, a estacionar em uma vaga proibida, a desobedecer leis, a retirar coisas “sem valor” do seu setor de trabalho, a negligenciar um colega de trabalho, a mentir, a humilhar, a corrupção não está em quem detém o poder somente, ela é um ‘filho’ do capitalismo exacerbado, um ovo que chocou e que está devorando seu criador.

Estamos nos tornando escravos e vitimas de nossa própria criação. Sendo assim, não está tão distante de nós. É que nós só percebemos quando precisamos aí nos deparamos com tais situações. E agora o que vamos fazer? Como eu poderei contribuir para essa mudança? Essas perguntas já foram feitas durante toda a existência humana e mais uma vez a busca pela resposta é que nos leva a inércia de uma vida sem perspectivas.

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