MEDO DE GENTE

Luciene Amaral da Silva

Quando Maria Clara Machado escreveu em 1955 a peça infantil PLUFT o fatasminha camarada ela já acenava para uma realidade que havia de ficar mais frequente nos dias de hoje.

Na história o fantasminha tem medo de gente, uma reação totalmente adversa da natureza das coisas, deveria ser gente que tem medo de fantasma e não o contrário, no entanto, a autora já profetizava uma realidade vindoura de forma mais escandalosa, não que em 1955 não havia, o fato é que em 2015 a situação se agrava mais ainda: gente maltratando gente.

Parece que gente virou mercadoria ou coisa sem valor, onde se troca, se vende, se mata, se maltrata, se comercializa, se falsifica, ou seja, gente foi coisificado. E tornado coisa pela própria gente. Gente não cuida mais de gente, cuida melhor de carros, casas, barcos, celulares, cuida bem de bens.

Fazemos grandes muradas nas casas, parecendo mais fortalezas que lares, colocamos câmeras de segurança, não andamos mais com dinheiro, temos medo de construir bens, de sair, a noite não nos pertence mais, e em muitos lugares, nem o dia também, tudo por medo de gente. Gente com medo de gente, que mundo é esse meu Deus.

Crianças maltratadas, órfãs de família e de justiça, sem destinos e sem infância, sem vida, crianças assim tratadas por nós, será que é por isso que gente pequena quando cresce não aprende a cuidar de gente. Vi gente pequena passando fome deve ser também por isso que quando cresce e vira gente não cuida bem de gente.

Mas quem anda colocando próteses sem necessidade nas pessoas, quem faz cirurgia do coração com produtos vencidos, quem só receita remédio de marca para beneficiar o fabricante que em troca de benefícios solicita que o médico use apenas sua marca e seu laboratório não passou fome, não foram maltratado e viveu no conforto e porque faz isso com gente?

Quem irá proteger gente da gente? Quem irá salvar a humanidade dela mesma? As futuras gerações dessa forma que estão sendo tratadas e criadas por nós?

Na sociedade em que vivemos é normal ver fantasma com medo de gente, diante dos fatos presenciados sobre como gente trata gente. Será melhor ser fantasma que ser gente?


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