Nos idos anos de 1960/1970, fundamos um bloco que fatalmente ficaria famoso nos carnavais de Santana do Ipanema. Vejamos, pois, os componentes desse bloco: o autor destas notas, Tonho Jacaré, Arquimedes (Lobão), Vadinho de Seu Aleixo, Lobinho, Paulo Dom, Raposo, Zé Ormindo, Colorau, João Neto Bestão (João do Mato), Iran Peri e outros safados de cujos nomes não mais me recordo.
Pois bem. Coube a mim e a Arquimedes a direção do bloco carnavalesco. Tínhamos, então, o absoluto poder de advertir, suspender e até expulsar do bloco qualquer elemento que não cumprisse nossas determinações.
Para se ter ideia da rigidez da disciplina, certa vez, Zé Ormindo, por haver cometido falta grave, foi expulso do bloco. Mas depois de muita conversa e pedido de desculpas foi-lhe permitido retornar às nossas fileiras.
Algumas determinações do bloco: jogar pedra em cachorro que fosse encontrado na rua, derramar tonel d’água de construções, derramar lixeira, chutar portas, mexer com doidos, chamar dona de casa à porta e esconder-se, furtar cigarros de carteiras que dessem bobeira e copos deixados em mesas, afora outras molecagens.
Às vésperas do tríduo momesco, já estávamos arrecadando recursos na Rua Nova para gastos com fantasia, pó de mico (fezes de cavalo), farinha de trigo, tintas e outras despesas. Cooperavam conosco: Zé Maximiliano, Dona Sebastiana, Dona Bila, Dona Maria Aleixo, Dona Maria mãe de Arlindo Cara Véia, João Nobre, Wilson Modesto, tio José Constantino, Seu Agripino Cara Véia, Seu Miguel Bulhões e outros moradores que também se dispunham ajudar o bloco.
No sábado de Zé Pereira, Vadinho (Nivaldo de Seu Aleixo) havia chegado de São Paulo logo cedo e a turma logo lhe fez uma visita de boas-vindas. Como ele já era antigo integrante do Bacurau, apenas lhe demos conta do trajeto do bloco, horário de saída à rua e local de concentração, no caso os fundos da casa de Maria Zuza.
No domingo de carnaval, tudo pronto. Colocamos o bloco na rua, cantando nosso hino “Bacurau tá no oco do pau, Bacurau tá no oco do pau”, e mais algo assim parecido.
Logo de saída, Raposo atirou duas pedras no telhado da garagem de Seu Sebastião Jiló e mexeu com um bêbado que passava perto do bloco. Zé Ormindo deu uma paulada num vira-lata. Começamos por aí.
Seguimos em frente com destino à casa de Seu Antônio Azevedo, onde fomos bem recebidos. Lá encontramos uma mesa repleta de tira-gostos e de bebidas. Foi lá que o danado do Lobão duplicou a dose de Nivaldo (era “meia cana” e ele lhe deu o copo cheio). Nessa brincadeira, o coitado do Vadinho (Nivaldo) lambeu tudo. Na residência seguinte, a mesma coisa se repetiu. Vadinho, alegre e entusiasmado, não percebia a maldade de Lobão.
O que Lobão queria mesmo era embebedar Vadinho, para que a turma o carregasse nas costas de casa em casa até sua residência. Não deu outra. De repente, Vadinho não se aguentava em pé. Daí fomos obrigados a carregá-lo nas costas, como assim desejava o malvado Lobão.
Ao chegarmos a sua casa, Dona Maria Aleixo, sua mãe, alarmada com a deprimente cena, não entendia o que se havia passado com o seu filho. Aflita e preocupada, pediu-nos que o colocasse na cama.
Comentário dela: “Não entendo como vocês passam o dia inteiro brincando, bebendo e estão aí todos bons, inteiros, e Vadinho, num instante, se embriaga!”
Coitada, não sabia ela o que Arquimedes (Lobão) havia aprontado com Vadinho...
Maceió, setembro de 2014
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