DIÁRIO DE QUARENTENA
A gente não tem ideias de como
mudou, até que a mudança já
tenha acontecido.
O diário de Anne Frank
Hoje me peguei pensando sobre o que passou Anne Frank trancada naquele sótão, não dias a fios, mas anos, escrevendo suas impressões no que se tornaria o best seller mundial, o seu famoso “O Diário de Anne Frank”. Aqui estamos, guardando as devidas proporções presos em casa e cercado por um inimigo não ideológico, nem está a caça de minorias, mas que ataca a todos indiscriminadamente e ainda mais terrível, pois não podemos ataca-los só podemos nos defender, e mesmo assim não temos garantia nenhuma, pois ele é sorrateiro e difuso a única arma eficaz contra ele, ainda não foi descoberta.
Em relação a Anne temos milhões de motivos para esta agradecidos pois este recolhimento compulsório breve acabará e tudo voltará ao seu lugar, infelizmente para ela nunca foi uma opção. Morreu de tifo nos campos da morte de Belgem-Belsem.
Precisei estes dias sair deste confinamento compulsório, e rodando nas ruas de Maceió, olhando aquelas ruas desertas e silenciosas em plena quarta-feira me veio à mente aqueles filmes de ficção pós-apocalípticos mostrando a terra arrasada e os poucos sobreviventes vivendo nos subterrâneas, seja porque o ar está radioativo ou um vírus mortal se propaga pelo ar ou mesmo quando a saída só é possível pelo dia, porque zumbis tomam conta da noite a exemplo do filme “ Eu sou a Lenda” com Will Smith.
A Arte imita a vida, ou a vida imita a Arte? Deixo isto para vocês responderem a esta questão. É assustador a semelhança, um filme é bom quanto existe verossimilhança, pois o déjà vu que tive na quarta-feira p.p. foi chocante, a ficção estava se materializando bem diante de meus olhos. Ao chegar em casa e ligar a TV todos os programas vem com aqueles anúncios “Este programa for gravado antes da Quarentena” aí o pesadelo está completo.
Acredito que ninguém em seu maior delírio imaginou uma situação a qual estamos vivendo, principalmente para mim um sexagenário. A gente começava a achar que já tinha visto de tudo, pois nasci no século XX e passamos a transição dos séculos hoje vivo no XXI, a Era da globalização (não confundir com globalismo), o encurtamento das distâncias e o livre comércio entre os países, bem como toda as facilidades modernas, é importante que se diga necessárias, mas como tudo na vida, cobra o seu preço. Ainda bem que a tecnologia da mesma forma que cria problemas, também acha soluções. E ela já está a caminho. Eu creio.
Diz o ditado, uma topada se não nos faz cair, nos leva para a frente. Para aqueles que estão aproveitando o confinamento (parece coisa de gado) e por falar em gado é impossível não lembrar da distopia do Hurley em “Admirável Mundo Novo” pois nunca vimos um Estado-Deus com tanto poder sobre as liberdades individuais ao ponto de impedir culto em residência sobre a alegação de ajuntamento de pessoas o “big brother” (o grande irmão) predito no livro 1984 de George Orwell já é uma realidade, ao ponto de ser incentivado o denuncismo tão característico de Estados Totalitários.
Não podemos esquecer o nosso Aldous Huxley dos trópicos nosso querido Zé Ramalho e sua poesia premonitória.
O povo foge da ignorância
Apesar de viver tão perto dela
E sonham com melhores tempos idos
Contemplam essa vida numa cela
Esperam nova possibilidade
De verem esse mundo se acabar
A arca de Noé, o dirigível
Não voam, nem se pode flutuar
Não voam, nem se pode flutuar
Não voam, nem se pode flutuar
Mas tenhamos esperança, — Este é o começo do fim —diziam todos, mas Churchill, o primeiro-ministro britânico, que provavelmente ouvira o mesmo em Londres, disse: — Isto não é o fim. Nem mesmo é o começo do fim. É talvez o fim do começo. — Você percebe a diferença? É claro que há razão para otimismo. Por tudo isso gostaria de acabar esta crônica da quarentena ou do confinamento compulsório com as palavras da Anne Frank
“O sol brilha, o céu está muito azul, sopra um vento magnífico e eu anseio tanto - anseio tanto - por tudo... Tenho saudades de conversar, de liberdade, de amigos, de estar sozinha. Tenho tanta saudade... de chorar! ”
Joaquim José Oliveira Chagas
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