Sábado que passou estivemos mais uma vez na rádio Cidade, concedendo entrevista ao radialista Francisco Coelho. O mote da conversa sempre o mesmo a que nos propomos debater a Cultura, seja regional ou no âmbito geral. De modo que enveredado neste tema, comentamos sobre a Semana Nacional do Folclore, sobre a cultura nordestina, sobre os folguedos alagoanos.
E claro, num papo bem informal debatemos sobre o modo de falar do povo do nosso sertão. Defenderemos sempre a tese de que ninguém na verdade fala errado. O que existe mesmo são desvios de linguagem, desvios da língua denominada culta ou ainda a língua padrão. Dentro dessa perspectiva surgem os modos de fala sublinguais e os sotaques. Comentávamos que, falar “Pro mode”, por exemplo, tal expressão pode ser um galicismo, um vício de linguagem originado do idioma francês. Roberto Carlos na música “Ciúme de Você” cita uma expressão semelhante:
“Se você põe aquele seu vestido, lindo
E alguém olha pra você. Digo que já não gosto dele
E que você não vê que ele está ficando de mode”
A expressão está relacionada à moda, ou modo de fazer. Como isso veio parar no nordeste? Seria uma pergunta muito coerente, porém fácil de responder. Lembremos que tivemos franceses e holandeses invadindo nossa pátria no passado. E estes não passariam impunemente por nossas raízes sem deixarem vestígios, claro. Outra expressão bastante usada pelo matuto é “arriba” “em riba” “arribar”. Nesse caso vem do espanhol que traduzida significa “Em cima!” ou “Levanta!”.
Comentamos também sobre a palavra “Cabra” que apesar de tratar-se de um substantivo, feminino, referente à fêmea do bode. O sertanejo a utiliza para designar indivíduos do gênero masculino. Senão vejamos alguns casos, Cabra da peste! Cabra safado!
“ Cabra danado da cabeça de escapole
Tua venta dá um fole pro ferreiro trabaiá...”
E tem o Cabra de Pêia! Este inclusive abre um precedente pra apimentar a conversa. Cabra de pêia no sertão é o cabra sem-vergonha, que está merecendo levar umas lapadas justamente com elas, as Pêias, muito utilizadas pela polícia no tempo dos coronéis. Já na região litorânea, na praia, Cabra de Pêia é o homem que sobe no coqueiro, pois pra executar seu trabalho utiliza as pêias feitas de couro cru.
Existe um vício de linguagem muito utilizado no meio musical, a ambiguidade que é o uso de frases ou expressões com duplo sentido. Neste caso, geralmente com sentido pejorativo. Algumas rádios até proíbem na sua programação a execução de material cujo artista se utilize de tal recurso. No passado isso esteve muito em voga entre os cantores de forró: Trio Nordestino, Zenilton, Marinês, Clemilda, entre outros. Pros maloqueiros da Praça do Monumento isso era um achado. De repente, lá estavam os caras na maior discussão sobre futebol, aí um gaiato interrompe a conversa no meio e sapeca a pergunta:
-Que time é teu lá no Rio?
Fabio Campos 21/09/2011 No fabiosoarescampos.blogspot.com o Conto SUBMARINO BAHIA EM SANTANA DO IPANEMA.
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