Em Olho D’água das Flores, assim como no resto do mundo, têm cachaceiros. Daqueles que já amanhecem o dia, perambulando pelas ruas, a fim de arranjar, quem lhes pague uma dose de cana pra beber. Conta minha mãe que na sua infância, por volta dos seus doze anos, em 1938. Todos os dias, passava pela rua que ela morava, dois desses tipos de bêbados. Era um casal, mas não eram casados. Ele chamava-se Agnélo. A ela, chamavam-na Júlia Muda. Só passavam brigando e fazendo alarido. A passagem da dupla, era esperada por minha mãe, e por toda a vizinhança. Punham-se às janelas, pra ver o espetáculo. A muda grunhia, fazia gestos obscenos e cambaleante atacava Agnélo com fúria. Ele esquivava-se, mantinha-se em pé como podia, e uma frase repetia: -Só não dou as costas!
No Cd “SERTÃO BRABO I”, do poeta e escritor Clerisvaldo Braga das Chagas, tem uma faixa com a poesia intitulada: Maria Berro Grosso, Que era muito valente mais cedeu aos encantos do grande amor de sua vida Zé Bolachão, assim diz o vate :
(...) Maria Berro Grosso
Brigava que só o cão
Querendo encontrar Maria
Era na briga de galo
Nas corridas de cavalo
Nas casas de bruxaria
Berro Grosso todo dia
Bebia pinga e conhaque
No baralho virou craque
Montava em lombo de burro
Se num cristão desse um murro
Foi na titela era um baque
Ela zombava e se ria
Se fosse fraco o matuto
Dava tragada em charuto
Que o fumaceiro cobria
Cachimbava todo dia
Na bodega de João coxo
Dizia que homem frouxo
Não passava perto dela (...)
Maria Berro Grosso, do poeta Clerisvaldo B. Chagas, e Júlia Muda, de Olho D’água das Flores. Fizeram-me recordar de um episódio ocorrido com uma bêbada que tive a oportunidade de conhecer em Senador Rui Palmeira. Perambulava pelas bancas e bares dia de feira. Conheci-a apenas por Maria, mas tomemos emprestado o Berro Grosso, pois assim, homenageamos a ilustre figura e o poeta. Pois bem, a nossa Maria Berro Grosso. Achou de pedir uma dose de cana, a um vaqueiro, na Bodega de Ciço de Quincas. O peão já estava muito zonzo. Deu-lhe um empurrão, falou-lhes uns palavrões. Aí a briga foi feia. Começou dentro do Bar e foram pro meio da rua. Maria lutava capoeira, deu uma tesoura voadora no cabra. A saia voou. Quem viu aquilo gritou. E um repórter, do Jornal Tribuna de Alagoas, que por acaso ali se encontrava, a cena fotografou.
Só não deu pra publicar. Sabe por quê? A única foto tirada, foi justamente no momento do golpe de capoeira. Maria com a perna levantada, e na calçola, feita de saco, toda à mostra. Dava-se pra ler nitidamente: “USINA UTINGA LEÃO”. Quem ia fazer propaganda de graça pra usineiro! Mais é nada!
*Fabio Campos 16/03/2010
*É professor do Estado e Município de Santana do Ipanema-AL
Contatos: fabiosoacam@yahoo.com
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