PROVA DE FOGO
(Clerisvaldo B. Chagas. 16.3.2010)
Com os Estados Unidos desgastados no processo de paz israelense, o Oriente Médio parte para outra fase de tantas e tantas que já enfrentou. Israel sempre foi aliado dos Estados Unidos na região, até porque precisou do Tio Sam para a sua defesa territorial. Isso não quer dizer, porém, que o estado judeu não seja preparado. Ao longo da sua existência tem desenvolvido técnicas civis e militares para vencer no social e na defesa intransigente da sua existência. Israel é país rico. Há quem diga que faz parte do clube atômico, possuindo sua bomba nuclear. Mas conseguir a paz entre adversários bíblicos tradicionais não é e nunca foi tarefa das mais fáceis. Tanto isso é verdade que o próprio amigo Estados Unidos, sentiram-se humilhados com uma atitude de Israel. Enquanto fala sobre paz, o governo judeu ameaça construir casas em local ferozmente disputado. Na linguagem da juventude de hoje, “isso não existe”. Como falar de paz se minhas decisões são de guerra? Os Estados Unidos parecem irritados com mais essa incoerência do antigo aliado. O governo americano demonstra cansaço, frustração e impaciência.
O Brasil do presidente Luiz Inácio Lula da Silva entra no cenário outrora longínquo e inacessível. Quer ser o novo intermediário, o negociador entre israelenses e palestinos. Com pretensões de aumentar a influência brasileira no mundo e procurando apoio para reestruturar a ONU ─ Organização das Nações Unidas ─ o Brasil salta decidido no meio da fogueira. Como Lula é um negociador natural e o Brasil possui tradições pacifistas, ambos os lados da questão estão esperançosos num entendimento. Está certo que o presidente brasileiro foi bem recebido, mas isso não deixou de surgir algumas reações sensíveis às tradições. É um momento novo a que israelenses e palestinos não estão acostumados a ele, pois, antes, só conheciam de fato a voz americana. Décadas a fio com o modo de ser de um mediador, absorver a diferença agora não é fácil. Chegar a uma batalha onde só se fala em bomba, fuzil, ódio e morte, levar amor e compaixão, como disse o brasileiro, é como receber uma bomba diferente. “É chegada à hora de abrir um círculo virtuoso de negociações”, falou o visitante citando exemplos do Brasil. Nesse país milhões de judeus vivem pacificamente com milhões de árabes. A continuação da novidade acontecerá ainda em outros lugares com outros personagens fora do parlamento israelense.
Se Lula fracassar, o Brasil fracassará junto. Se conseguir os acordos desejados, Lula será forte candidato ao prêmio Nobel da paz, sem dúvida nenhuma. Então, o Brasil colocará uma coroa de ouro na cabeça. Vamos aguardar para ver como agem os envolvidos. Se com disposição de tolerância adulta ou com desencanto de criança após brinquedo novo. A cultura do Oriente não é a cultura de Brasília. E Cuba não foi nada em relação a essa desafiadora PROVA DE FOGO.
Comentários