“Quem conta um conto aumenta um ponto”
Adágio popular
Determinadas crônicas nossa, aqui divulgada. Ocasionou, em alguns leitores, amigos nossos, certa margem de dúvidas da verossimilhança. Na primeira oportunidade que tiveram, questionaram-nos, se foram realmente reais, alguns fatos e personagens aqui narrados. Para alguns inverossímeis. Longe de considerarmo-nos ofendidos. A Lisonja nos invadiu em tais ocasiões. Por considerarmos que estamos no caminho da legitimidade de um contador de causos.
Quem não guarda na lembrança de sua infância - Nas noites em que faltava energia elétrica - a figura do contador de histórias. Podia ser o pai ou a mãe, um avô, um tio, uma empregada doméstica, etc. Histórias de Pedro Malazarte, Cacão-de-fogo, Mata-sete, Camões e Lampião se sucediam. E ninguém (pré)ocupava-se em perguntar, se isso ou aquilo era verdade ou mentira. Deleitava-se apenas. É o que recomendamos.
Maria Feliciana, Zé Abdon, Bento da Prefeitura, O anãozinho Miguel, Marcos Virgulino, Corina, Cinco Minutos, Natalício Têi- Têi, Django das Biatas, Justino, Propício, Sulino Preto. E a porca. Estes personagens, não constituem parte de uma única história. Fizeram parte da nossa história, assim como da história de Santana do Ipanema. Marcaram-nos pela excentricidade de cada um.
Maria Feliciana por ser a mulher mais alta do mundo (ou era só do Brasil)! Se apresentava nos circos. Zé Abdon Marques, por ser o homem mais gordo que tínhamos conhecimento! Bento da Prefeitura por ser o homem mais magro e feio que já vimos. Quando sorria, parecia que o esqueleto ia sair pela boca. Pense na presepada! Miguel anãozinho, o menor homem que vimos na infância. Andava num caminhãozinho de madeira, chapéu Panamá e óculos rayban, morava no Cachimbo Eterno. Marcos Virgulino,o maior maloqueiro que conhecíamos, a esse, ninguém devia dar as costas, não merecia confiança. Imprevisível! Podia tomar alguma coisa que você tivesse à mão ou simplesmente dar-lhe uma tapa e sair correndo. Lembro de uma vez, em que fui olhar, uma cheia do Panema. O balaústre da ponte General Batista Tubino, era bem baixinho. Louvo a administração municipal que aumentou o parapeito. Pois bem, distraído encontrava-me admirando o rio. Chega Marcos Virgulino, por trás, e causa-me tremendo susto. Simulando derrubar-me ponte a baixo. Sai dali convicto de ter nascido novamente. Corina pedia esmola. Era fanho. Andava com um chapéu e uma bolsa de palha. Só aceitava alimentos secos, principalmente feijão cru e farinha de mandioca. Diziam as más línguas que já estava rico, e que tinha muitos vasos cheios de farinha e feijão em casa. Cinco Minutos, Natalício Têi-Têi, Django das Biatas e Justino estes, eram doidos.
Cinco Minutos tinha mania de andar correndo. Saía e voltava, nesse tempo. Daí o apelido. Natalício andava vestido num terno e sua mania era, ao final de um colóquio, imitava os estampidos de uma arma: Têi!Têi! Django das Biatas, andava como “em câmara lenta”, sorumbático, incomunicável, não podia ver uma bituca de cigarro no chão, apanhava pra fumar. Justino, era barbudo e mal-encarado, bêbado tornava-se agressivo. Quando criança, caso quisessem-nos, fazer medo, diziam-nos, lá vem Justino! Propício coitado, não ofendia ninguém, mas virava uma fera se lhe chamassem de “Peru baxêro”.
Sulino preto morava num barraco quase embaixo da ponte do camoxinga (próximo ao Maracanã). Sua casa não tinha portas nem janelas. Diziam que ele saía pelas telhas. Era verdade, eu mesmo vi, uma vez! Isso, porque criava um monte de cobras. Disse-me um vizinho dele, que em noite de lua cheia, Sulino virava lobisomem.
Bem próximo dali, por aquela mesma época, ninguém estava mais andando depois da meia-noite. Isso porque uma mãe, de tanto bater e amaldiçoar a filha, uma moça rebelde. Tinha ela, a filha, virado uma porca. E andava em noite de lua. Lá pela estrada do baixio. Se reclamando e se mal-dizendo pela maldição. E se encontrasse uma mulher, atacava com violência. Daí ainda hoje existir a expressão: “Hoje fulana ta mordida da porca!” E se encontrasse um homem? Alguém mais curioso poderia perguntar. Aí a porca olhava assim bem no fundo dos olhos dele e dizia:
-Meu fio né feio!
E ia embora. “Entrou pelo c... dum pinto e saiu pelo c... dum pato. Seu rei mandou dizer que contasse quatro!”
Fabio Campos 21/12/2009.
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