Até a páscoa o seio da minha família estará aumentado. Serei avô pela segunda vez. Desde já, tão ansiosamente aguardada, que venha querida neta Sofia! A filha do meu filho Joaddan. O entusiasmo e as alegrias de uma nova vida que está pra chegar, somado ao advento da páscoa, trazem antigas recordações.
O povo sertanejo é rico em tradições envolvendo o nascimento. Encontros são promovidos à casa de uma mulher em estado puerperal. Promove-se o conhecido chá de bebê, cuja confraternização visa angariar o enxoval do futuro rebento. A modernidade levou esses encontros para a Universidade. A futura mamãe já não é mais exclusiva do lar, ela agora disputa o mercado de trabalho. É bem provável que já exista o tal chá, sendo promovido até pela internet. Antigamente se dava um almoço. E tinha a simpatia do coração da galinha: É assim, dá-se um pequeno corte no coração da penosa e observa-se depois de cozido, se a fissura ficou aberta, será menina, se fechada menino. Isso era naquele tempo que não existia ultra-sonografia. Hoje em dia, a criança ainda na barriga da mãe, já está posando pras fotos, dando tchau! Os futuros pais, já estão até escolhendo o sexo da criança! Se gêmeos ou quantos filhos querem duma só barrigada!
Algumas outras superstições estapafúrdias o tempo encarregou-se de deletar. A exemplo do cordão no pescoço: os mais antigos acreditavam que se a gestante permanecesse com um cordão, colar, ou qualquer outro adorno de pescoço até o parto, a criança poderia dar trabalho pra nascer, por estar enrolada pelo cordão umbilical. Outra crendice dizia que uma chave colocada sobre a barriga da mulher grávida, numa noite de lua cheia, poderia fazer com que o futuro nenê nascesse com o lábio leporino.
Há ainda quem acredite que bebê nenhum nasce (ou se vinga se nascido) de oito meses, só de número ímpar, sete ou nove. E que crianças falastronas, seria porque teriam lhe dado a beber água de chocalho. Na casa que uma criança nasceu, ainda hoje dizem: “está todo mundo de pixilinga”, significa que todos estão com piolho-de-galinha! E claro, promove-se o famoso encontro que antecede, ou precede o batizado chamado de “Cachimbo”. Onde todos confraternizam-se, degustam um licor que leva esse nome, feito à base de cachaça, mel, cravo e canela.
Dona Mãezinha parteira morava na Rua José Amorim, foi uma das mais competentes parteiras que essas redondezas já conhecera. Por décadas, aparou muita gente nesse mundo de meu Deus, inclusive este cronista, como também aos meus irmãos. Todos nascidos em casa. Nasci ali à Praça do Monumento, sob os olhares cuidadosos de Nossa Senhora da Assunção. Lá em casa, poucas as visitas da “Cegonha”. No entanto na casa vizinha, todo ano era um! Se não estou enganado, treze vezes, a tal ave pernalta baixou vôo ali. Outro dia estávamos à porta, eu e minha mãe. E ela, chamando Marcos Davi confidenciou-lhe:
- Ô Marcos! Quando tu estava pra nascer, lá vai eu acordar João (Soares) pra ir chamar Dona mãezinha, pois comadre Floraci ia ter você!
Fabio Campos 15.03.2012 No fabiosoares campos. Com Breve o Conto “Tendas Sagradas”
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