A palavra seduz-me, tanto na prosa quanto no verso. Na prosa elas se apresentam sérias, sóbrias. Na poesia danam-se a brincar. É aqui que me divirto mais. Tanto no que faço, quanto no que os outros fazem. Nas horas de laser costumo ligar o rádio em emissoras que nos oferecem belas páginas musicais. Uma coisa tenho observado, nas músicas sertanejas, as de maior sucesso, na sua quase totalidade fazem trocadilhos com ditos populares.
Citemos algumas: “Estado Decadente” de Zé Neto e Cristiano que diz: Ninguém morre de amor, mas cachaça e saudade mata; “Do Copo Eu Vim” Diego e Vitor Hugo vão dizer: em terra de balada quem ta solteiro é rei; “Cem Mil” Gustavo Lima diz: Se ela bater o dedo eu volto. São tantas. “No Dia de São Nunca de Tarde” Samyra Show já começa dizendo: quem bate esquece... E por aí vai.
Quanto ao título da crônica, tinha a intenção de explicar uma teoria ainda não confirmada, a respeito do alfabeto da língua portuguesa. Por enquanto, é só um trocadilho. Mas vale a pena saber: o site ciberduvida.pt esclarece que as duas expressões são sinônimas, ambas estão corretas: “Fazer Sentido”: ter significado; ser compreensível; lógico. “Ter Sentido”: não ser descabido, ser aceitável, concebível.
Tenho três netos: Sofia (6 anos), Aika (6 anos) e Thomas (9 anos). Num dia qualquer desta semana, deparei-me com Thomas. Com ar apreensível queria ajuda do vovô para concluir uma tarefa escolar. Tinha que conseguir palavras de revistas velhas, recortá-las e colar no caderno. Detalhe: Tinham que terminar com: ...ssão; ...ção e ...são. E nos aventuramos à busca. Encontramos. Mas a sensação que tive era, de alguém que vai a procissão de Senhora Santana procurar um parente na multidão. E que satisfação ao encontrar! Mas também veio-me uma preocupação: as pessoas, dali pra frente, ao ler os textos desfalcados daquelas palavras. Será que conseguirão subentendê-las?
Aika também me surpreendeu. Primeiro, ao enviar do meu celular mensagem de texto no watsapp sem errar uma única palavra, sem uso de corretor de texto! Também fazendo uma tarefa escolar que o vovô acompanhava de longe ocupado com outra coisa. Lia em voz alta: “Citar nomes de brinquedos que conheço: patinete, patins, boneca... Vô, lembra aí de algum? Sugeri: Skate? E ela soletrando enquanto escrevia: “is-quei-te. Contestei: Não Aika! Apague, bote aí, primeiro um “S”, depois um “K”. E ela: Não vô, eu escrevi em português mesmo. Estava certa.
No portal G1.com encontrei artigo assinado pelo professor linguístico Sérgio Nogueira trazia palavras em Português que vieram do Japonês.
“CARAOQUÊ vem de karaokê. KARA = vazia; OKE forma reduzida de OKESUTORA = Orquestra. Surgiu no início da década de 80. O dono de um bar previnindo-se contra a ausência constante de seu cantor-guitarrista gravou vários acompanhamentos musicais.
Quanto aos gentílicos: ISSEI, NISSEI e SANSEI. Um japonês nato que veio para a América = ISSEI; o filho dele nascido na América = NISSEI; o neto do japonês = SANSEI. 1ª geração = IS; 2ª geração = NI; 3ª geração = SAN.
Tem palavras, a depender do tempo, e da classe social. Seu uso adquire determinada conotação, pode se tornar metáfora ou gíria. Vou dar um exemplo. Aliás, dois. Na minha infância, década de 70, a palavra “arretado” era de uso corriqueiro entre os meninos. No entanto pras meninas, e no seio familiar era proibida. Tida como palavra de baixo escalão. Hoje vejo acontecer algo semelhante com a palavra “danado”. Fui ao Google e busquei os significados, das duas:
“ARRETADO: adjetivo para caracterizar cabra da peste, pessoa corajosa, valente. Também para valorizar positivamente pessoa ou objeto. Regionalismo [nordeste brasileiro] belo, vistoso, grandioso; o que foi obrigado a voltar pra trás, vendido na condição de ser comprado de volta.
DANADO: subst. Do Latim ‘damnatus’ indivíduo condenado, rejeitado; zangado, amaldiçoado, esperto ou extraordinário; [religião] ruim, malévolo, aquele que foi condenado ao inferno. É frequente o uso para designar criança travessa, agitada ou que faz algo impressionante para sua idade. [música] usada para caracterizar situação extraordinária: ‘sorte danada’; “Danado de Bom” Luiz Gonzaga.
Pra encerrar Piadas. Tem delas que são reais.
As crianças brincavam na praça. Começaram um jogo de bola. E Aika:
-Eu sou a juíza.
Outro coleguinha:
Não. Eu sou o juízo.
A professora:
-Joãozinho a sua redação sobre “Minha Casa”. Está igualzinha a de seu irmão!
-Claro. Nós moramos na mesma casa!
Enquanto isso no cartório:
-Quero registrar meu filho.
-Que nome?
-Ké cachaça.
-Oxente! Não pode.
-E num tem Kevinho?
Duas crianças. No banco detrás do carro. Estão indo a escola pro segundo dia aula.
O menorzinho chorava muito. A mãe ao volante argumenta:
-Meu filho! É a Lei, se eu não levar você pra escola posso ir presa! Você quer que isso aconteça?
-Quanto tempo vai ficar lá?
Fabio Campos, 08 de junho de 2019.
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