A VERA ESTÁ TE PROCURANDO!

Fábio Campos

No tempo dos governos militares, aqui em Santana do Ipanema, a Polícia fazia rondas pelas ruas da cidade, efetuava blitz e realizava batidas por toda a caatinga de nossos sertões com um Jeppe de combate, cedido pelo exército brasileiro. Muito possante por sinal. Cabine dupla, pneus tara larga, para-choque reforçado, faróis potentes, munido de rádio amador com antena e haste de mola. Pintura de camuflagem. Sua presença, estivesse estacionado ou andando, impunha respeito. Pela sobriedade e sisudez nas linhas e (na ausência de) cores o fez ganhar o apelido de “Jipão da Polícia”.
Por vezes, vi-o chegar à Delegacia. Chegava sempre apressado. Vomitava com violência, soldados e foras-da-lei. Grilhões e grades eram descerradas lá dentro. Gritos, lamúrias e imprecações misturavam-se no cárcere. E o “Jipão da Polícia” tornava a ganhar o mundo. Não era mais tempo de Lampião nem Corisco. Era tempo de Zé Crispim, Valderedo, Zé Gago e Floro. Outras sagas de família. Outros medos. Sobre este último, cabe aqui o registro, o escritor Clerisvaldo B Chagas escreveu “Floro Novais Herói ou Bandido?”
Quanto à República dos militares, tinha-se que respeitá-la. Nosso DEIC, era a cela da bosta. Ladrão de galinha e fumador de maconha, nossos subversivos. Tanto cidadãos quanto salafrários miravam aquele veículo, o “Jipão da Polícia”, com uma certeza, ali dentro transportava-se a Lei. Implacável, severa. Mas Lei.
Naquela época, 73 por aí, apareceu uma moda de roupas que trazia a insígnia US ARMY, do exército americano, nos bolsos. Muitas foram vendidas e outras tantas, por ordem do governo, recolhidas das lojas. Não podia admitir-se tal ultraje! Afinal ensinava-se nas escolas a ter-se respeito pelos símbolos pátrios. Era obrigatório cantar-se o hino e hastear a bandeira nacional ao iniciar as aulas. Destruir ou queimar uma bandeira do Brasil era considerado crime. Um desrespeito a pátria, passível de uma punição sob os rigores da lei. As bandeiras, só e somente só, ocupavam lugar de destaque. Se ficassem velhas deveriam ser levadas a uma delegacia. Ou entregues na Junta do Serviço Militar.
O poder exercia influência em tudo, inclusive na MPB. Aquela música “Eu te amo meu Brasil” d'OS INCRIVEIS. Criada pra acender o espírito patriótico. Os “subversivos” trataram logo de criar um plágio pra ela:
Ao invés de cantar: As praias do Brasil ensolarada lá lá lá lá/O chão do país que elevou
Cantavam: Maconha no Brasil foi liberada lá lá lá lá/Até o presidente já fumou.
Fernando Henrique, ex-exilado e ex-presidente admitiria depois ter provado. Hoje em dia temos os carros pretos da polícia, pelotão especial, chamados de PELOPES que exercem a mesma função do "Jipão". Antes, muito antes deles, existiram as Veraneios da Polícia. Os maloqueiros da Praça da Bandeira (já estava com saudade deles). Inventaram uma pegadinha. Quando se encontravam iniciavam este diálogo:
-Êih! A Vera tá te procurando!
-Que Vera?
-A Veraneio da polícia!


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