FRAGMENTOS DE UMA VIDA

Djalma Carvalho

Acabo de ler Fragmentos de uma Vida, livro autobiográfico de Ernann Tenório de Albuquerque, funcionário que fez brilhante e vitoriosa carreira no Banco do Brasil, hoje vivendo merecida aposentadoria.
Aprecio o gênero literário biografia, que até me fascina, porque dele costumo recolher, após a leitura de cada obra, os melhores exemplos de vida, como os exemplos que acabo de recolher deste novo e talentoso escritor alagoano.
O autor do livro, embora tenha nascido no interior de Capela, viveu sua infância e adolescência na fazenda Bom Regalo, situada no município de Murici. Exemplo de honradez deu-lhe seu pai, Horácio Tenório de Albuquerque, que com trabalho e sacrifício de toda ordem conseguiu criar e educar 9 filhos, ensinando-lhes a enfrentar a vida com dignidade.
Quando ingressei no Banco do Brasil em Santana do Ipanema, lá encontrei o irmão de Ernann, Dionísio Tenório de Albuquerque, colega de trabalho que eu muito admirava e com quem fiz grande e sadia amizade. Antes, fora ele professor do Ginásio Santana e meu incentivador para enfrentar o concurso do BB. Em 1975, reencontramo-nos em Maceió, trabalhando na mesma agência. Eu, exercendo cargo em comissão, e ele, brilhante advogado, lotado no setor jurídico. Conhecendo Ernann tempos depois, logo o associei à expressão do caráter e da retidão do seu irmão Dionísio, homem de bem, que morreu em 1990, vítima de lamentável acidente automobilístico.
No livro encontrará o leitor o pungente relato da vida do autor como aprendiz marinheiro, grumete, marinheiro e, finalmente, cabo, após 10 anos de serviço prestado à Marinha do Brasil. Aprovado em cursos ali promovidos, chegou ele à especialidade de Escrita e Fazenda. Como chefe de secretaria, recusou-se, certa feita e sem punição, a servir cafezinho, alegando que esse serviço era privativo de taifeiros, contrariando, portanto, ordem do comandante da corporação, que deslocara, arbitrariamente, esses servidores para sua residência.
Em agosto de 1964, após sua aprovação em concurso, desligou-se da Marinha e ingressou no Banco do Brasil, fazendo aí brilhante e bem-sucedida carreira funcional, aposentando-se como superintendente regional. Exercendo esse cargo em Alagoas, certa feita e também sem punição, recusou-se a pagar despesas de hotel de um diretor do Banco do Brasil que em fins de semana vinha fazer farra em Maceió.
Tive relação funcional muito boa com Ernann Tenório de Albuquerque, ele, superintendente, e eu, gerente geral da agência em Santana do Ipanema. Todos os meus pleitos, colocados formalmente em papel, foram por ele atendidos. Faço questão de registrar um deles, o que cancelou a transferência ex officio para Maceió de dois modestos contínuos. Lá está hoje aposentado Reginaldo José Raymundo, como testemunha, criando dignamente sua numerosa família sem os percalços da vida numa cidade grande, por vezes violenta e de elevado custo vida.
No que respeita a ectoplasma há no livro um fato de causar arrepios.
Trata-se, afinal, de livro para ser lido de uma assentada. Escrito em linguagem clara e acessível, logo, logo se chega à última página com a mesma ansiedade e sabor da leitura das páginas iniciais. Parabéns.
Maceió, janeiro de 2010.

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