É ISSO AÍ BICHO! SACOU?...

Fábio Campos

Na época da bossa nova e na onda da juventude transviada existiram os “hippies”. Grupos de jovens universitários, classe média e alta, que faziam uma espécie de protesto pacífico. Perambulavam pelos grandes centros, defendendo o lema: “paz e amor”. O protesto incluía rejeitar todos os tipos de padrões burgueses como, trabalhar, acumular bens e até mesmo os costumes mais tradicionais de higiene pessoal. Alegavam que viviam em busca de um equilíbrio homem e natureza. Queriam viver num mundo Zen. O que incluía, nesse modus vivendis, uma completa liberação sexual e o uso de drogas como LSD e maconha.
Esse movimento pacifista nasceu na América. Os jovens americanos, rejeitavam dessa forma, à corrida armamentista das superpotências mundiais, o alistamento militar, a “guerra fria”, a guerra do Vietnã, ou qualquer outro tipo de violência.
Eram crias de Wood stock (1969), o maior show de rock do planeta. Criou-se entre eles, um modo diferente de comunicação verbal, as “gírias”: Sacou! É isso aí bicho! Sem grilo! É um barato! Curtição! Sem caretice! Falou cara!
Aqui no Brasil, o governo militar, claro, tentou reprimir “o movimento”. Sutilmente criando o projeto RONDON que dava oportunidade, a jovens estudantes e acadêmicos, de fazer intercâmbio cultural e pesquisas científicas. Ao tempo em que promovia a defesa da natureza, principalmente nos grandes biomas, amazonense e da caatinga nordestina. Com suas ricas fauna e flora.

E aqui em Santana. Quem foram nossos “hippies”? Zé Alves, nosso colega, hoje é professor. Naquela época, fazia parte do grupo de jovens da igreja católica. Amanheceu um dia resolvido a ser “hippie”. Passou o dia todo tomando cana no bar de Quiterinha. E no dia seguinte estava na calçada, do beco da casa de Seu Abdon Marques. E ficou lá, sentado sobre os pés cruzados. Bêbado, sujo, descalço, tocando um violão. Nisso, lá vem o padre Cirílo. Ao vê-lo naquela situação, indaga:

- O que é isso Zé Alves?

- Agora sou “hippie” padre. Paz e amor!...

- Que “hippie” que nada! Vá pra casa curtir essa cachaça! Tenha vergonha!

Abdon Marques Neto, o popular Nenen, filho de D. Maria Elza Marques. Foi outro que aderiu ao movimento “hippie”. Certo dia, foi pro Ginásio Santana nestes trajes: Camisa sem botões, amarrada na cintura, um cordão prateado no pescoço, calça jeans com uns rasgões, cabelo estilo Black Power. E nos pés, um par de tamancos de madeira super barulhentos.
Seu Costinha, na época, era o coordenador de disciplina e era também juiz tutelar da infância, ou seja, comissário de menor. Ao ver Nenen, entrando no Ginásio naqueles trajes, o interpela:

-Êi moço, onde pensa que vai?

-Assistir aula...Sacou?

-Não saquei...Fora!

E ainda prometeu que iria falar com seus pais. Desse jeito, o padre, o bedel e também o juiz contra. Não tem movimento “hippie” que aguente tanta rejeição. Por isso não vingou em Santana do Ipanema. É isso aí bicho!

*Fabio Campos 11/04/2010 *É professor do Estado e Município em S. do Ipanema – AL.
Contato: fabiosoacam@yahoo.com



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