Fui deixando o tempo passar, passar, demorando, protelando, adiando, para poder escrever algumas linhas sobre meu irmão Gileno, que faleceu no dia 26 de junho passado, faltando-lhe um mês para completar 82 anos de idade. Faleceu muito cedo. Havia muito tempo ainda, para continuar a servir a seus conterrâneos, à sua gente, à sua cidade natal, nossa Santana do Ipanema.
A “percepção da fragilidade da vida”, no dizer de Victor Hugo, a gente só começa a percebê-la quando se vai alcançando a cada passo, vitoriosamente e com saúde, a tão sonhada, mas inelutável, condição de idoso.
Com razão a escritora Rachel de Queiroz que disse, em seu livro de crônicas Tantos Anos: “O amor de irmão não tem altos e baixos, é planície serena.”
Tanto uma como outra assertivas são verdades, que fui deixando o tempo passar, tocado por imensa saudade, para tratar do assunto Gileno, meu irmão de muitos anos de luta, de trabalho honrado, como professor e comerciante em nossa cidade natal.
Foi-se meu porto seguro para escutá-lo e com ele tratar de tudo sobre educação, cultura, política e desenvolvimento de Santana do Ipanema, assuntos que ele dominava com perfeito conhecimento de causa. Era apaixonado por Santana do Ipanema, por sua gente, por seus conterrâneos, por seus ex-alunos. Meu mestre de cerimônias nos lançamentos dos meus livros.
Aposentado como professor estadual – tempo dedicado à educação da mocidade santanense – Gileno preferiu ficar na santa terrinha, vivendo a salutar vida interiorana, de boas conversas, de divertidos bate-papos com seus amigos conterrâneos, na praça, no “senadinho”, em sua vidraçaria.
Deixou como obra perene o Colégio Divino Mestre, por ele fundado, como legado em favor da mocidade estudiosa de Santana do Ipanema. Bom irmão, excelente e exemplar pai de família.
Dele disse nosso irmão Aderval, em sentido e doloroso momento de despedida no velório de Gileno, cujo corpo se achava à véspera de ser levado à sepultura: “Seu legado jamais será esquecido. Aprendi muito com você. Você foi um gigante em nossa família. Muito obrigado por você ter sido meu irmão!”
Sidney, sobrinho de Gileno, também usou da palavra naquele momento de dor e despedida: “Quero fazer um brinde à memória e à sua existência marcante. Você esteve presente em tantos episódios importantes de nossas vidas! Alegria do privilégio de conhecê-lo e de chamá-lo de um grande amigo, um tio, um pai, um irmão, um professor!”
Também, o administrador e analista de sistemas Cheops Malta deixou gravado em bela crônica seu depoimento sobre a morte de Gileno: “Você se foi, mas sua memória continua viva em cada canto da nossa cidade. Lembramos do seu sorriso contagiante, da sua fé inabalável e da sua paixão por Senhora Santana. A cada procissão, a cada subida de serra, a sua imagem se junta à nossa. Afinal, quem poderia esquecer a sua devoção e a força com que carregava o andor da nossa Padroeira?”
Tenho comigo o belo trabalho, de capa dura, denominado, Riacho Gravatá: Importância Histórica e Geográfica para o Município de Santana do Ipanema – Alagoas, produzido pelo trio de pesquisa Antônio José Bento de Melo, José Sandro Ribeiro Damasceno e Gileno de Melo Carvalho, em Santana do Ipanema, em 2003.
Trata-se de Curso de Pós-Graduação Lato Sensu Geo-História, produzido pela Assessoria de Pesquisa Pós-Graduação e Extensão – ASPPE, da Fundação Educacional Jayme de Altavila – FEJAL/CESMAC/CISE – Centro Universitário de Formação de Profissionais da Educação.
O curso teve como conteúdo a história do riacho Gravatá, afluente da margem esquerda do rio Ipanema, que nasce na encosta da serra do Jitaí, município de Águas Belas, Pernambuco, e deságua no rio Ipanema, no lugar chamado Barra do Gravatá, município de Santana do Ipanema. Ao citado conteúdo da pesquisa do riacho Gravatá foram acrescentados a origem do nome do riacho, situação geográfica, histórias que o povo conta e aspectos socioeconômicos da região.
O artigo foi apresentado ao Curso de Pós-Graduação, Lato Sensu, em Geo-História, da Fundação Educacional Jayme de Altavila/Fejal/Cesmac, como requisito para obtenção do título de especialista conferido aos citados pesquisadores.
A todo esse ingente trabalho na vida de Gileno, da sua luta pela educação e cultura da mocidade estudiosa de Santana do Ipanema, preocupação com a história da cidade, com seu patrimônio histórico, com a origem de sua gente, acrescentaria a beleza da última estrofe da canção “Luzes da Ribalta”, do genial Charles Chaplin: “Para que chorar o que passou/ Lamentar perdidas ilusões/ Se o ideal que sempre nos acalentou/ Renascerá em outros corações.”
Maceió, setembro de 2024.
Comentários