Tratei deste assunto neste espaço, faz alguns dias. Mais dois exemplos, a propósito do tema, poderão servir para corroborar a assertiva do saudoso professor e filósofo Sílvio de Macedo, que dizia, em sala de aula, que a terra natal exerce especial atração sobre seus filhos, fazendo com que eles retornem às origens, hoje ou amanhã, ainda que em visita nostálgica. Referia-se a ele próprio, como exemplo de vida, por ter retornado definitivamente a Alagoas depois de alguns anos servindo na embaixada do Brasil em Paris.
Quando estudante de Direito, sentado na segunda fila do auditório do Cesmac, em 1978, tive a histórica oportunidade de assistir à aula ali proferida pelo genial jurista Pontes de Miranda. Alvo de inúmeras homenagens e manifestações de carinho do governo, entidades e povo alagoano, o ilustre jurisconsulto estava de retorno ao chão nativo depois de mais de 40 anos fora de Alagoas. Encontro no livro de Ivan Barros o seguinte relato sobre Pontes de Miranda: “No dia seguinte, fez um roteiro sentimental pelas ruas de Maceió. Visitou a casa nº 2991, no Mutange, onde viveu sua juventude. Entrou de mansinho. Ficou emocionado às lágrimas quando recebeu uma manga de uma velha mangueira que nunca esquecera, nos fundos do quintal.”
Na verdade, Pontes de Miranda viera despedir-se de sua terra natal, porque faleceu pouco tempo depois, em 22 de dezembro de 1979, aos 87 anos.
No livro Caminhada, dediquei duas páginas a Oscar Silva, escritor santanense que deixou acervo literário da melhor qualidade, com mais de dez obras publicadas, tendo como carro-chefe o livro Fruta de Palma (crônicas nordestinas). Menino pobre, nascido na Rua do Sebo em Santana do Ipanema, “com alicerce no submundo social e que comeu o pão que o diabo amassou”, segundo suas palavras, Oscar Silva foi marceneiro, tecelão, balconista de botequim, integrante da PM que combateu Lampião, funcionário estadual, servidor da ECT e, finalmente, funcionário do Ministério da Fazenda. Esteve afastado de Alagoas, em voluntário exílio, por mais de 40 anos.
Em julho de 1991, quando eu exercia a função de gerente geral da agência do BB em Santana do Ipanema, fui convidado pelo colega aposentado José Abdon Malta Marques, então radialista da Rádio Santana FM, para ajudá-lo na entrevista com o Oscar Silva, que fazia visita sentimental à terra natal. Naquela oportunidade, o escritor havia visitado a casa onde nascera, assistido à festa da padroeira, participado de baile no Tênis Clube Santanense, abraçado amigos de infância e matado saudades. Faleceu um mês depois da entrevista, aos 76 anos, em Toledo, Paraná, onde residia.
Afinal, em seu livro Fruta de Palma, Oscar Silva se refere a Honorato Avelino, personagem do episódio que teria ocorrido por volta de 1915. Dizia-se em minha cidade que essa figura popular corria mais que um trem ou um automóvel. Sua viagem de ida e volta, a pé, a Juazeiro, por exemplo, cerca de 200 léguas, durava apenas dois dias. Certa feita, Delmiro Gouveia deixava o trem em Quebrangulo e tomava seu automóvel em viagem a Santana do Ipanema. Honorato não aceitou seu convite, preferindo viajar a pé. Ao chegar à cidade, o famoso industrial encontrou Honorato Avelino palestrando na praça, bem à vontade, e a debochar da velocidade do seu automóvel...
Maceió, abril de 2010.
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