Outro dia, em passeio pelo Shopping Recife Boa Viagem, comprei, em uma loja especializada, uma camisa do time de minha admiração, do qual sou torcedor desde a minha adolescência. Torcedor, digamos, sem muito ardor clubístico ou qualquer sinal de fanatismo ou paixão.
No final da década de 1960, por aí, foi difundida em Santana do Ipanema a moda de uso de camisas oficiais de famosos times de futebol. Camisas usadas por jovens desportistas santanenses, tendo à mostra o nome ou a logomarca do clube de sua admiração, de sua paixão, notadamente clubes do Rio de Janeiro.
Sobre essa moda, logo surgiu, entre Manoel Oliveira Queiroz, torcedor do Vasco da Gama, e Manoel Felix da Silva (“Manoel Barata”), torcedor do Flamengo, a discussão, de forma brincalhona, sobre quem teria sido o primeiro a inventar a dita moda em Santana do Ipanema. Na verdade, nunca se soube, até hoje, quem realmente tinha razão nessa história. “Manoel Barata”, alegre desportista, é falecido, infelizmente.
Com a vitória da seleção brasileira em campos da Suécia e do Chile, respectivamente em 1958 e 1962, o futebol passou a ser assunto recorrente entre populares, em bares, praças, em todas as rodas na cidade. Depois que o Ipanema, time de futebol da cidade, se tornara tricampeão do interior alagoano, invicto, no período 1957/1958/1959, o assunto potencializou-se com maior intensidade.
Retornando ao assunto inicial, procura da camisa do time do qual sou torcedor, encontrei em outra loja, curiosamente, a camisa oficial, franqueada, com o nome de Pior Time do Mundo, pertencente ao Íbis Sport Club, time de futebol da cidade de Paulista, Pernambuco, fundado em 1938.
Os pernambucanos sabem explicar as razões desse pitoresco epíteto atribuído ao Íbis. Em artigo publicado, o pesquisador Cido Vieira assegura que o apelido teve origem no péssimo desempenho em campo, em meio a uma tremenda crise financeira por que passara o Íbis, “com nove derrotas seguidas e mais uma sequência de 23 partidas sem vitória, no período de três anos e onze meses”. O tempo dessa crise teria ocorrido entre os anos de 1970 e 1980. Certamente foram somadas a tudo isso a irreverência de rivais e a gozação de populares. Depois daí, a Família Ramos assumiu o comando do time para dar continuidade a sua história. A partir de 2017, então, o epíteto passou a ser usado como trunfo do clube Íbis.
Recordo-me que, nos últimos anos da década de 1950 ou no início de 1960, o Íbis esteve em Santana do Ipanema, ocasião em que aplicou o placar de 3 a 1 no Ipanema. Assisti, desolado, a essa derrota do tricampeão do interior alagoano, na qual brilhou o jogador Buchudo que assinalou, salvo engano, os três tentos do Íbis, vencedor desse jogo amistoso. Lamentável fiasco.
Ainda hoje, afinal, não sei quem teria sido o negociador que levou à cidade o Pior Time do Mundo, para derrotar o tricampeão Ipanema nos seus próprios domínios, no Estádio Arnon de Melo.
Maceió, outubro de 2019.
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