O LIVRO DO GUERREIRO

Djalma Carvalho

Djalma de Melo Carvalho
Membro da Academia Maceioense de Letras

Acabo de ler, com especial interesse, o livro Ontem, Hoje e Amanhã, de autoria do amigo João Torres Cordeiro, residente na simpática e hospitaleira cidade de Belo Jardim, agreste pernambucano.
Recebido o honroso convite, lá estivemos, eu e Rosineide, para assistir à solenidade de lançamento do livro, realizada na Câmara de Vereadores da cidade, seguida de coquetel servido ao grande número de amigos e autoridades que compareceram ao evento, levando abraço e cumprimentos ao escritor.
Disse, com muita propriedade, Jorge Luís Borges, consagrado escritor argentino: “O livro é uma extensão da memória e da imaginação. O livro é a grande memória dos séculos. Se os livros desaparecessem, desapareceria a história e, seguramente, o homem.”
Lançou-se João Torres, com sucesso, ao audacioso e prazeroso trabalho de recolher anotações sobre viventes de ontem e de hoje de Belo Jardim, cidade que o acolhera aos dois anos de idade, fugindo de Sertânia, Pernambuco, com a mãe e dois irmãos de menor idade, todos com medo de morrer. ”Viajando de trem, engolindo poeira”, segundo palavras do autor, a família chegou a Belo Jardim e encontrou o senhor Primo da Oficina, anjo da guarda que a todos acolheu com dignidade, ordenando ao filho: “Leve-os para casa e diga a sua mãe que faça comida para todos. Também mande dar banho neles, oferecendo-lhes roupas.”
Trata-se, na verdade, de livro de cuidadosos e minuciosos registros, sem ordem cronológica, enfeixados num volume de 105 páginas, fruto de anotações do dia a dia, de uma vida de muita luta e de trabalho honrado, desde criança até aos dias de hoje, aos 73 anos de idade. Desde criança, João Torres enfrentou frio e chuva e comeu o pão que o diabo amassou, para construir um invejável currículo: carregador de água do Burity, transportador de feira, vendedor, empregado de bar, músico, locutor e comentarista esportivo, radialista, animador de programa de auditório, sócio gerente da rádio Burity, político (vereador por 30 anos e 3 vezes presidente da câmara municipal), presidente de Lions por 4 vezes, jornalista, redator e diretor do jornal A Tribuna, da cidade, maçom e membro fundador da Academia Belo-Jardinense de Letras.
João Torres é, na verdade, um guerreiro. Exemplo de superação, a par de inúmeras e inevitáveis sessões de hemodiálise, desde 2010.
Registrou no livro fatos e coisas da cidade – até causos e curiosidades. Não deixou de homenagear amigos, contemporâneos, colegas de trabalho, personagens ilustres da cidade, também gente do povo. Os que se foram e os que estão vivos. Citou um a um o nome dos seus personagens, alguns acompanhados de fotos e textos.
Parece-me que, pela quantidade de nomes citados, não esqueceu absolutamente ninguém, nem mesmo este cronista de Alagoas, seu admirador e amigo de mais de vinte anos de nossa vida leonística.
Não esqueço o momento histórico. Homem de admirável gesto de grandeza política, digamos de maturidade democrática, demonstrado ao final da campanha como candidato ao cargo de governador do distrito, na convenção de Lions, realizada no Recife em 1998. Apanhou o microfone, reconheceu a vitória do seu opositor e parabenizou-o, sob aplausos dos convencionais. Não conspirou nem criou crise no Lions.
Homem do bem e do povo. Vocação para servir ao próximo e de fazer amigos. Passado de notáveis serviços prestados, não só à comunidade de Belo Jardim, mas também às comunidades circunvizinhas. Positivamente, uma referência em sua cidade e no agreste pernambucano.
Com razão, afinal, seu conterrâneo e escritor Ruy Rodrigues Leite, que não o esqueceu, homenageando-o com mote poético, de cujas sextilhas publicadas, vejamos apenas a seguinte: “Com um pouco mais de saúde/ Mas com fé, coragem e paz/ O homem dos sete instrumentos/ Esse João de tudo faz/ Só falo porque conheço/ O que é que falta a ele fazer mais?”
Parabéns, João Torres!

Maceió, fevereiro de 2018.

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