O GOLFO DE GRACILIANO

Djalma Carvalho

No livro Pequeno Dicionário Graciliânico, do saudoso médico Dídimo Otto Kummer, há a referência ao desejo de Graciliano Ramos, em certa ocasião de justificado ressentimento, de que Alagoas fosse transformada em um golfo.
Hoje o orgulhoso alagoano acostumado a exaltar as belezas de sua terra, suas tradições, seus valores e sua gente acolhedora parece desabar com a leitura de estarrecedoras manchetes de jornais sobre corrupção, farra de dinheiro público, índices de analfabetismo, de violência e de outros índices que avaliam a economia do Estado. Até concordaria, diante de tudo isso, com o autor de Vidas Secas.
Não me apraz maldizer a terra por tanto descalabro capaz de emudecer o mais entusiasta ufanista tupiniquim. Ao cronista compete, porém, o registro do fato no tempo, e o faço inteiramente constrangido.
Comecemos pela dívida do Estado de Alagoas que, em 1995 era de R$650 milhões, hoje chega a R$7 bilhões. Pobre Alagoas de R$2,6 bilhões de recursos federais desviados por ano, segundo entrevista recente do chefe da Controladoria Geral da União em Alagoas. Pobre Alagoas de generosos duodécimos deferidos e que paga por mês quase R$100 mil reais a um nobre deputado (Jornal Extra, de 29/5 a 4/6/2009, página 21). Lembro-me, a tal propósito, de que antigamente os deputados eram homens pobres, a exemplo de Adeildo Nepomuceno Marques e Siloé Tavares, idealistas políticos representantes de Santana do Ipanema na Assembleia Legislativa, nos idos anos da década de 50.
Quanto ao Produto Interno Bruto per capita, há um dado animador: Alagoas está acima do Maranhão e do Piauí, mas fica em segundo lugar no Brasil em emissão de cheques sem fundos. Já a inadimplência empreende verdadeira corrida olímpica.
Cantada e decantada em prosa e verso pelos que divulgam o seu potencial turístico, Maceió transformou-se na capital mais violenta do País, onde assaltos viraram rotina. Delinquentes põem o revólver na cintura e se acham no direito de assaltar qualquer pessoa ou promover arrastões em consultórios e clínicas. Ninguém escapa à violência instalada em Alagoas, nem mesmo uma promotora de justiça integrante do Conselho Estadual de Segurança, recentemente assaltada. Nem este cronista, também assaltado quando abria o portão de sua residência.
Pobre Alagoas cujo índice de analfabetismo (29,3% da população) é o maior do Brasil, com o agravante de professores em greve e de não se saber, em consequência, quando começa e termina o ano letivo na rede pública estadual.
Alagoas, seguramente, é uma terra de gritantes contrastes sociais e econômicos. De um lado índices perversos de pobreza. De outro, concentração de renda e de riqueza em mãos de poucos. Nos pontos de semáforos, mãos infantis estendidas. Nas principais ruas de Maceió, desfile de reluzentes carros novos e importados, alguns até blindados.
Afora, afinal, as razões de foro íntimo que justificavam o desejado acidente geográfico, assustado ficaria hoje mestre Graça, se vivo fosse, com tanta notícia ruim sobre nossa querida “Alagoas, estrela radiosa, que refulge ao sorrir das manhãs”, no dizer do poeta Luiz de Mesquita.
Maceió, julho de 2009.

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