Djalma de Melo Carvalho
Membro da Academia Santanense de Letras, Ciências e Artes
Lendo os capítulos finais do livro 1889 (Editora Globo, SP, 1ª Edição, 2013), de autoria do escritor e ensaísta Laurentino Gomes, despertaram-me algumas curiosidades históricas inseridas nessa obra de expressivo fôlego literário.
Em salas de aula de nossas escolas não chegam aos alunos, com o esclarecimento de certas particularidades, os fatos históricos que culminaram com o golpe militar de 15 de novembro de 1889. Ensina-se que se trata de Proclamação da República e fim da Monarquia, data cívica que se tornou feriado nacional.
Em 30 de junho de 1887, dom Pedro II, bem doente, embarcou para a Europa, para tratamento de saúde que durou um ano e dois meses.
Pela terceira vez, a princesa Isabel assumia a regência, governando o Brasil na ausência do seu pai, homem de 62 anos de idade, envelhecido, de barba e cabelos brancos, cansado, arrastando os pés. Nesse período, a princesa Isabel assinou a Lei Áurea, votada em 13 de maio de 1888, extinguindo a escravidão no Brasil.
A Redentora, que libertou os escravos, era católica e muito querida da população negra e dos pobres. Ela propunha reformas profundas no Brasil. Mas cresciam, então, de forma inusitada boatos difundidos pela imprensa e pelos demais opositores à Monarquia que davam como certa a abdicação do imperador em favor de sua filha.
A oposição à herdeira do trono feita pela aristocracia rural fazia sentido. Fazendeiros e barões do café estavam magoados com o fim da escravidão (criaturas sem cidadania, castigadas, mão de obra de graça) e com a extinção do grande negócio do tráfico negreiro. Acrescente-se, ainda, o fato de que a princesa era casada com um estrangeiro, o francês Gastão de Orleans, o conde d”Eu, pessoa não muito estimada dos brasileiros.
O imperador ainda conseguiu dissolver a Câmara e convocar novas eleições, mas já era tarde demais.
Os militares, heróis da Guerra do Paraguai, incentivados pelo Clube Militar e pela mocidade da Escola Militar da Praia Vermelha, deflagraram o golpe militar, liderados pelo Marechal Deodoro da Fonseca, proclamando a República.
Estava extinta a Monarquia no Brasil.
Em 17 de novembro de 1889, pela madrugada, deu-se a partida da família imperial para o exílio. O vapor Alagoas levou-a para a Europa. Dom Pedro II faleceu no exílio em 5 de dezembro de 1891. Nos seus pertences foi encontrado um embrulho, com o bilhete: “É terra de meu país; desejo que seja posta no meu caixão, se eu morrer fora da minha pátria.”
A censura à imprensa e a perseguição a jornalistas, intelectuais e opositores do novo regime surgiram logo após a posse do governo provisório. Citado no livro, disse José Murilo de Carvalho: “Os militares julgaram-se donos e salvadores da República, com direito de intervir assim que lhes parecesse conveniente.”
Com o golpe de 1889, todos os militares envolvidos na conspiração foram promovidos sem observância dos interstícios regulamentares. Hermes da Fonseca, por exemplo, em menos de um ano passou de capitão a tenente-coronel. No final de 1889 todos os militares tiveram 50% de aumento de soldos. Os companheiros de armas de Deodoro passaram a ocupar o governo dos estados da federação. Em Alagoas, assumiu o tenente reformado Pedro Paulino da Fonseca, irmão de Deodoro. Para o governo do Amazonas, por exemplo, foi nomeado um jovem tenente. Assim por diante.
“Em 25 de maio de 1890 – disse o autor – Deodoro conferiu a todos os ministros a patente de general, em retribuição aos serviços prestados à pátria na mudança do regime. A promoção (...) incluía os ministros civis, como Rui Barbosa, Quintino Bocaiúva e Francisco Glicério, embora nunca tivessem envergado uma farda na vida.”
Rui Barbosa, jurista, grande expressão da inteligência nacional e autor de frases famosas, então ministro da Fazenda passou a ser tratado como “general Barbosa”.
A primeira constituição da República brasileira foi aprovada em 24 de fevereiro de 1891. Estabeleceu-se o casamento civil e determinou-se a separação entre a Igreja e o Estado, mas o voto feminino não foi aprovado, porque o constituinte Moniz Freire, do Espírito Santo, alarmara: “Essa aspiração se me afigura como imoral e anárquica.”
Em 23 de novembro de 1891, em meio a pressões políticas e a convulsões em todo o país, Deodoro renunciou ao cargo de presidente da República. Passou o governo ao vice-presidente Floriano Peixoto, conhecido como o “Marechal de Ferro” e o “Consolidador da República”.
Velho e gravemente enfermo, o marechal Deodoro da Fonseca, fundador da República e primeiro presidente do Brasil, retirou-se da cena política. Faleceu em agosto de 1892, aos 65 anos de idade.
O general Barbosa, afinal, desiludido com Floriano Peixoto, que governava o país sob estado de sítio, disse no exílio, na Inglaterra: “O militarismo, governo da espada pela espada, arruína as instituições militares.”
Maceió, junho de 2018.
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