MÚSICA, MAESTRO!

Djalma Carvalho

Hoje, a crônica é nossa: minha e de Evalda. Nesta data, comemoramos o 45º aniversário de casamento, festa que os dicionaristas convencionaram chamar de Bodas de Rubi.
Música, maestro!
Vamos celebrar e exaltar o amor dançando, como o fazemos com freqüência. Pedimos-lhe licença, maestro, para dançar imaginária valsa triunfal que se junta à doce lembrança daquele distante 21 de fevereiro de 1962. Daquela tarde-noite de muito calor e de muita emoção.
Ao pé do altar da igreja matriz de Santana do Ipanema dois jovens determinados assumiam importante compromisso de vida. Cerimônia mágica e inesquecível, aquela! Em volta, testemunhas, familiares, poucos convidados. Sem decoração, holofotes, violinos, sem Ave-Maria de Gounod. Tudo ali era simplicidade e pureza. Não me recordo da cor da roupa que usei na cerimônia, mas ainda vejo Evalda de vestido curto, pérola, olhando-me ternamente.
A valsa, maestro, pode ser Danúbio Azul. Hoje, o par romântico imagina-se num salão iluminado, engalanado, a receber aplausos dos filhos e dos netos. A cada festivo rodopio, o sorriso no feliz sorriso, o olhar no terno olhar.
Olhar de reflexão sobre a longa caminhada a dois. O trabalho, a luta, os filhos que foram nascendo – Ana Carla, Luciana, Djalma Filho –, as cantigas de ninar, os cuidados médicos, o remédio, as noites de vigília, os primeiros passos, a escola, o colégio, a faculdade, os diplomas, a vida independente de cada um, genro, nora e netos.
Nenhum casamento é um lago azul de águas plácidas. Nele também há tormentas, tempestades, lua cheia e quarto minguante, em razão das diferenças individuais. O segredo é não confundir paixão com amor. A paixão dura pouco e está ligada ao calor do prazer dos sentidos, responsável por tantas e intempestivas separações. Santo Agostinho tratou da “espuma infernal das paixões.” O amor transcende os limites estreitos da paixão. É temperança, amadurecimento, discernimento. É coisa grandiosa.
Chegar aos 45 anos de casados não é tarefa fácil, sobretudo nos tempos modernos. Mas chegamos. E a mágica? Cumplicidade, tolerância, respeito, admiração, renúncia, doação, humildade, fidelidade.
Girando o caleidoscópio da vida, verificamos que, maciçamente, investimos em emoções. Festas. Dança. Bailes. Noite alagoana. Viagens. Canecão, Plataforma, Scala, Lido, Sambódromo. Águas mansas do Amazonas e águas profundas e escuras do Atlântico, em inesquecíveis cruzeiros. Os deuses imortais permitiram-nos esta moldura de vida a dois, com responsabilidade.
Primeiras rugas, cabelos grisalhos: marcas do tempo. Marcas inevitáveis, que fingimos não perceber. O entardecer ainda não nos preocupa.
Terminada a valsa comemorativa, a festa continua, e outras virão. Agora, forró, xote, baião, samba, mambo, rumba, foxtrote, bolero. Portanto, música, maestro!

Maceió, fevereiro de 2007.

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