DEDICAÇÃO E TRABALHO

Djalma Carvalho

Do estranho encanto que a cidade exerce sobre aqueles que nela aportam, em visita, a trabalho ou para residir, atraindo-os amorosamente, já tratei em diversas oportunidades.
Não são poucas as espontâneas declarações de apreço à cidade dos que passaram por Santana do Ipanema ou que lá viveram por algum tempo. Ouvem-se por aí, com freqüência, declarações como “lá passei os melhores dias de minha vida” ou “que bons tempos aqueles, que não voltarão jamais!”. O saudoso Desembargador Luiz de Oliveira Souza, por exemplo, costumava fazê-las.
Mistério, fascínio, seja lá o que for. Na verdade, assegurava o escritor Oscar Silva que tudo se devia ao gosto de azinhavre da água do rio Ipanema. Aquele que provasse dessa água salobra jamais esqueceria a cidade. Acho até que ninguém, de sã consciência, queira hoje provar dessa água, porque poluído está o rio Ipanema, infelizmente.
Para os nativos, então, uma coisa é certa: cada forasteiro que chega à cidade deixa algo de bom que se incorpora à cultura do lugar. Juízes, promotores, advogados, médicos, engenheiros, bancários, professores, que por lá passaram e que lecionaram nos colégios da cidade, inestimável contribuição deixaram para a formação cultural de gerações de santanenses.
O professor José Conrado de Lima, que faleceu recentemente, além de sua contribuição como educador e como cidadão, deixou comovente exemplo de amor a Santana do Ipanema.
Criança ainda, o professor Conrado enfrentou o trabalho duro, de operário de usina a trabalhador de estrada de rodagem. Como servidor da Secretaria de Saúde do Estado, chegou a Santana do Ipanema em 1953, depois de ter morado em Batalha, Igreja Nova e Pão de Açúcar. Na cidade, administrava os negócios da Igreja Batista. Era pernambucano.
Fomos colegas de turma no Ginásio Santana e na Escola Técnica de Comércio, de 1954 a 1960. Iniciou o curso de ginásio já meio maduro. Trabalhamos no Dnocs: ele como auxiliar de enfermagem, e eu como auxiliar de escritório. Depois, palmilhamos diferentes caminhos na vida profissional. Nos raros reencontros, o caloroso abraço reafirmava a antiga amizade e a recíproca admiração.
Homem simples, modesto, honrado, respeitador, gentil, tornou-se muito querido na comunidade. Toda a sua vida foi dedicada à família, ao trabalho, à religião, à fé, a Deus e à crença numa vida futura. Era membro ativo da Maçonaria. Homem de cor sem preconceito. Graduou-se em Teologia e em História. Lecionou nos colégios de Santana do Ipanema e nos colégios de algumas cidades vizinhas. Foi secretário municipal na administração do prefeito Henaldo Bulhões.
Para prosseguir seus estudos e continuar a servir à sua igreja, passou a morar em Maceió. Com muita saudade, deixava, então, Santana do Ipanema, onde criara a família e fizera grandes amizades. Considerava-se filho da cidade.
Aposentado e cardíaco, procurava, com atividades mínimas, remediar a solidão da ociosidade. Ao sentir fraquejar-lhe o coração, pediu serenamente aos familiares que, quando sua morte viesse, seu corpo fosse sepultado em Santana do Ipanema.
Na tarde de 23 de fevereiro passado seu último desejo foi atendido.
Maceió, fevereiro de 2007.

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