MESTRE AURÉLIO

Djalma Carvalho

Outro dia, indo ao campus da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), encontrei logo próximo às agências do Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal uma pequena e popular feira de livros.
Como cronista e escritor e atraído pela boa quantidade de livros expostos à venda, logo me animei e comprei três exemplares, entre os quais o intitulado Aurélio Buarque de Holanda, contendo 15 matérias de autoria dos seguintes jornalistas, escritores e intelectuais: Milena Andrade, Lêdo Ivo, Antônio Houaiss, Carlos Moliterno, Marcos Vasconcelos, Mário Lima, Braulio Leite, Solange Berard Lages, Tânia de Maya Pedrosa e Arnoldo Jambo.
Todos eles tratando da vida e da obra do professor, ensaísta, contista, crítico, poeta, tradutor, filólogo, lexicógrafo, dicionarista e membro da Academia Brasileira de Letras.
O livro, editado pela Imprensa Oficial Graciliano Ramos, em 2016, tem todos os seus textos originalmente publicados em 2009.
Pelo interesse da obra, claro que sua leitura me levou algumas horas noturnas. Em meus escritos estou sempre a recorrer ao dicionário do mestre Aurélio, ilustre alagoano nascido em Passo do Camaragibe (meu professor de português preferia “do” a “de”).
Recordo-me, sempre, do que disse, a respeito, o escritor Gilberto Amado: “Escrevo com o dicionário. Sem dicionário não posso escrever — como escritor.”
A matéria mais importante do livro é, sem dúvida, a histórica entrevista concedida por Aurélio Buarque de Holanda Ferreira em 1982 a uma funcionária (nome não revelado) do Museu da Imagem e do Som de Alagoas — Misa , nunca publicada e que teria sido reproduzida por Graciliano Ramos. Longa entrevista que tem o sugestivo título de “A Alma das Palavras”.
Na última entrevista, aqui em Alagoas, concedida ao jornalista Mário Lima no final de 1988, mestre Aurélio disse: “Sou o maior leitor do meu próprio dicionário.” Já de cabelos desalinhados recitou versos do poeta Carlos Drummond de Andrade, para expressar seu amor pelas palavras: “Lutar com palavras é a luta mais vã/ Então lutamos mal rompe a manhã.”
Após essa entrevista, Aurélio Buarque de Holanda sentiu-se mal e teve de retornar ao Rio de Janeiro, onde faleceu no começo de março de 1989.
Mestre Aurélio apreciava o banho da água morna do mar das praias alagoanas. Anualmente, vinha a Maceió para abraçar os amigos e levar consigo o cheiro do mar e a beleza da paisagem alagoana. Amava sua terra, Alagoas, recordando seu tempo de criança.
Segundo a esposa Marina Baird, que viveu com mestre Aurélio 40 anos de casados, tiveram dois filhos Aurélio e Maria Luísa. Com a morte do marido a esposa assumiu os negócios de edição de dicionários.
Aurélio Buarque de Holanda Ferreira era homem romântico, de fino trato, cavalheiro, educado.
Em 23 de dezembro de 1976 estive na redação do Jornal de Alagoas para receber o prêmio da classificação do meu conto “De Zelina ao Mundo da Lua”, do “Concurso Literário Aurélio Buarque de Holanda”, instituído pelo próprio jornal. Além do próprio dicionarista, lá estavam Dr. José Maria de Melo, Solange Lages, Noaldo Dantas, vencedores do concurso de poesia e autoridades. Manhã movimentada, com discursos e cumprimentos. Ao me entregar o prêmio, recebi do mestre Aurélio Buarque o cordial e atencioso abraço sob o clarear dos flashs das máquinas fotográficas dos ativos e espertos repórteres presentes.

Maceió, fevereiro de 2025.

Comentários