ENCANTOS DE ALAGOAS

Djalma Carvalho

Há poucos dias, estive conversando, por telefone, com o ex-inspetor Almir Rodolfo Abreu, simpática criatura e cidadão muito querido por aqueles que com ele conviveram no ambiente de trabalho do Banco do Brasil.
Ingressou no BB em sua cidade natal, Caetité, Bahia, em 1º/03/1943, onde exerceu vários cargos administrativos intermediários até ser nomeado subgerente e, posteriormente, gerente da agência da qual fora fundador, o que significa dizer que se trata de raro e feliz acontecimento na carreira de bancário desse nosso banco oficial.
Depois, inspetor. Na verdade, missão fiscalizadora, mas essencialmente orientadora. Inspetor diferente, nunca temido. Soube, com isso, realizar sua missão com absoluto êxito e fazer amigos por onde andou. Diferentemente de conhecidas figuras carrancudas e autoritárias, com a mesma função, que também viajaram pelo Brasil afora.
Deve ter lido Cícero, o genial tribuno romano, que disse o seguinte no livro Dos Deveres: “Se desejamos ser amados, preservemo-nos de nos fazer temidos; é o meio, na vida pública como na vida privada, de alcançar o que desejamos.”
Faz da simplicidade sua filosofia de vida. Hoje, como ontem, saudável, brincalhão, alegre. Neste ano, comemorará 89 anos bem vividos.
Saído do longínquo sertão da Bahia, deu com os costados em Santana do Ipanema, em 1968, em sua primeira missão como inspetor. Ali, durante os meses de outubro e novembro, examinou documentos, observou rotinas de serviços, pediu esclarecimentos e elaborou seu conclusivo relatório em linguagem simples, clara e objetiva.
Daí veio o encantamento de verdade por coisas, belezas e gente de Alagoas. Inicialmente, conheceu a hospitalidade sertaneja e o calor abrasador que faz naquela região de seca periódica. Depois, deliciou-se com o banho nas águas mornas de nossas paradisíacas praias. Pronto, encantou-se com o murmúrio do mar, a ardência do sol e com a suave brisa que sopra nas belas praias alagoanas. Não mais voltou à sua terra natal, passando a morar à beira-mar de Maceió, para admirar, diariamente, o lindo nascer das manhãs tropicais e o poético crepúsculo de nossas tardes de verão.
Por falar em hospitalidade sertaneja, vejo-me naquela manhã ensolarada de um sábado de novembro de 1968, à porta da agência do BB, em Santana do Ipanema, em companhia do colega Josimar Medeiros e do inspetor que nos visitava. De repente, o irrecusável e honrado convite que nos fez Humberto dos Anjos, industrial e líder político de Olho d’Água das Flores, para que visitássemos sua cidade naquele dia. Lá, a partir da residência do anfitrião e de seu pai, Luís dos Anjos, em cada casa visitada também havia comida e bebida em abundância. Não havia festa na acolhedora cidade, mas havia o prazer de cada um do lugar em bem receber o visitante.
Somente muito tarde da noite retornamos a Santana do Ipanema. Naquela época não havia assaltos nem seqüestros nas estradas alagoanas. Dirigindo sem medo, as madames levaram cerca de uma hora para percorrer 22 quilômetros de poeirenta estrada de barro. Prudentemente, a elas havíamos passado as chaves dos automóveis.
Viagem, afinal, em boa companhia do ilustre inspetor, que vale a pena recordar.

Maceió, janeiro de 2007.

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