A uma mesa de restaurante em Maceió, encontro o conterrâneo Eraldo Bulhões a dizer-me que, num rasgo de nostalgia, havia citado meu nome no comício eleitoral do final da recente campanha para prefeito, em Santana do Ipanema. Referia-se aos grandes bailes de outrora do Tênis Clube Santanense, do qual fora presidente, onde lá estivera eu dançando boleros e tudo o mais com minha dama preferida.
Fazia alguns dias, meu irmão Gileno cobrava-me, em telefonema, a dívida de uma crônica com o mote de hoje. Valendo-me desse gênero ensaístico, tenho contado, em vã pretensão literária, a história de Santana do Ipanema em retalhos. Testemunhei fatos, outros me foram contados. Testemunhei, por exemplo, vários momentos da vida da cidade que tiveram a participação ativa de Eraldo Bulhões. Irrequieto, sonhador, crítico mordaz, inteligente, palavra fácil, foi aluno fundador (primeira turma), professor e diretor do Ginásio Santana. Participou de históricos movimentos reivindicatórios de sua terra natal, como o da energia elétrica, da passeata da “Rádio Candeeiro”, do abastecimento d’água, entre outros. Orador oficial em inúmeras solenidades.
De sonho em sonho, tornou-se, ali, empreendedor pioneiro na área da comunicação. Ainda acadêmico, fundou o jornal “O Ipanema”, infelizmente de vida efêmera. Continua no ar a Rádio Correio do Sertão, a primeira estação de rádio da cidade, fundada na década de 80.
O sangue político corre nas veias. Foi vereador. O avô e dois irmãos foram prefeitos; a cunhada, atual prefeita; o sobrinho é deputado estadual; outro irmão, o Geraldo, ex-deputado federal e ex-governador do Estado. Durante o mandato do irmão governador, exerceu o cargo de procurador geral do Estado. Nos bastidores, trabalhou pela criação do curso superior de sua cidade, hoje realidade palpável.
Com os filhos também advogados, dirige sua bem-sucedida banca em Alagoas. Milita em várias áreas do direito, sobretudo o penal, de cuja matéria foi professor universitário. É um colecionador de vitórias como advogado.
Agora de cadeira de rodas, – devagar, mas andando – continua encarando a profissão com absoluta normalidade. O traiçoeiro AVC não lhe tirou a lucidez, o raciocínio rápido e a eloquente oratória, armas por ele empunhadas com talento e competência para defender seus constituintes no Tribunal do Júri.
Cada um deve ter seu modo próprio de ser e de viver. O desleixo dos gênios e o desapego a bens materiais não lhe permitiram acumular riqueza e patrimônio considerável. Doutor Eraldo Bulhões nunca foi um predestinado a enriquecer, mas a viver vida bem vivida, confortável.
Afinal, homenagem especial a cidade lhe deve. Seu nome caberia, por exemplo, numa rua, numa avenida ou mesmo no frontispício de um colégio. Em vida, claro, a honraria calaria fortemente na alma e no coração do homenageado, por fazê-lo conhecer as razões da distinção a ele conferida por seus conterrâneos.
Com a palavra, portanto, a egrégia Câmara de Vereadores, que será convocada para prestar justo preito à inteligência de um ilustre filho da terra.
Maceió, janeiro de 2009.
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