OS IRMÃOS DE PORRE

Djalma Carvalho

A Assembléia Legislativa do Estado de Pernambuco, em sessão solene realizada em 18 de dezembro de 2008, entregou o título de Cidadão Pernambucano ao sindicalista Manoel Messias Nascimento de Melo, alagoano de Santana do Ipanema.
Título honroso para ele, familiares, amigos e admiradores. Em outra crônica tratei dos méritos que o fizeram destinatário do galardão.
Em seu famoso romance O Pai Goriot, disse Honoré de Balzac: “Um dia saberá que somos mais felizes com a felicidade dos filhos do que com a nossa.”
Assim, imagino a emoção de Manoel Constantino e Mariínha durante a solenidade, felizes e orgulhosos que estavam com a homenagem do filho.
Fico a imaginar, também, como estariam ali, naquele ambiente solene e protocolar, os irmãos Manoel e José Constantino, este já morando em outra dimensão, pessoas muito queridas dos sobrinhos, aí incluído o cronista. Brincalhão e mais aberto a diálogos, aquele estava sempre disposto a atender, sem indagações, a pedidos de trocados dos sobrinhos. Enquanto o outro, o mais velho, sempre sério e respeitoso, carregava consigo a circunspecção trazida da caserna, mas também era tio de coração doce e magnânimo. De rostos corados, sanguíneos, ali estariam os dois, lado a lado, com os olhos marejados de lágrimas, felizes da vida. O sucesso dos filhos e bem assim dos sobrinhos parecia a todos inequívoca conquista pessoal de ambos.
Maria Rocha Melo, minha avó Bilia, ficou viúva em 3 de novembro de 1940. Constantino Barbosa Melo, meu avô, vítima de fulminante infarto do miocárdio, morreu naquela data ao cruzar a soleira da porta da cozinha. Viúva ainda moça, coube à minha avó administrar a casa com rígida disciplina. Passei exatos dez anos morando em sua casa. Éramos quatro morando ali mesmo: vovó, os tios José e Manoel e eu. Dela muito querido, reservava-me o desvelo de primeiro neto.
Conta-me tio Manoel, gargalhando e divertindo-se ao relembrar a inusitada ocorrência, que, uma noite, após homérica farra de que participaram os dois tios, fora ele o primeiro a retornar a sua casa, recolhendo-se, sorrateiramente, ao quarto de dormir.
Até aí, tudo bem. Mas aconteceu que, horas depois, trazido por amigos, chegava tio José completamente embriagado. Recebe-o minha avó, muito aborrecida, dizendo-lhe do péssimo exemplo que ele acabava de dar ao irmão mais novo, este já recolhido, sem problema, ao seu quarto. Mais novo, dizia ela, e já homem respeitável, incapaz, portanto, de lhe causar tamanha vergonha!
Do quarto, tio Manoel a tudo ouvia, sentindo o mundo girar e tentando, a todo custo, segurar o desgraçado “embrulho” do estômago. Sabia Deus o sufoco por que estava passando, ali “devidamente bêbedo”, como diria o finado Alberto Paiva. De repente, para surpresa e novo desgosto de minha avó, eis que ele começa a vomitar escandalosamente, acordando a vizinhança.
Desesperada, brada minha avó: “Pronto! Agora tenho dois beberrões em casa, iguais a “Menininho” e a “Duda de Bagnane”!
Referia-se ela aos dois barulhentos cachaceiros de sua rua (hoje, Rua Cel. Lucena), moradores da casa em frente, vistos diariamente embriagados.
Maceió, dezembro de 2008.

Comentários