Disse lá atrás, numa outra edição, em outra publicação, que este espaço – Começo de Conversa – passaria a assumir o papel de uma imaginária cortina que se abriria ao leitor para a apresentação do conteúdo literário de cada novo livro de crônicas que fosse publicado.
Agora ele assume, mais uma vez, o papel para o qual foi imaginado.
Escrever é exercício prazeroso, sobretudo quando ele é praticado por diletantismo, sem ofício ou obrigação de qualquer natureza. Nesse exercício gratificante, fascinante, fui de há muito tempo nele envolvido, escrevendo notas, artigos e crônicas para jornais. Daí em diante, reminiscências foram vindo e paulatinamente aflorando casos e causos, tendo como protagonistas tipos populares, pitorescos e engraçados, de viventes de Santana do Ipanema, minha cidade natal, principal fonte de inspiração de todas essas folias que se tornaram livros de crônicas.
Não esqueci, ademais, recortes do cotidiano da cidade nem as boas relembranças de fatos, costumes e hábitos de uma sociedade – digamos moderna – que se instalou em pleno Sertão alagoano, a partir do último quartel do século XIX.
O passo a passo em direção ao passado é também ofício de cronista e de memorialista em potencial, envolvidos com a história de suas comunidades, de sua gente, registrando-a, passando-a para suas produções literárias. Claro que, nesse persistente trabalho de garimpagem, de pesquisa, haverá certa dose de ufanismo nativo. Também a natural motivação do “calor das lembranças”, no dizer de Proust.
Com razão, a escritora Lygia Fagundes Teles, que disse: “A função do escritor: ser testemunha do seu tempo e da sociedade.”
Neste novo livro o leitor encontrará memórias, perfis de ex-colegas de trabalho e de pessoas merecedoras do apreço e da amizade do cronista, retalhos de história, comentários de livros que me chegaram às mãos e notas de viagens.
Quanto ao título, direi que não pude fugir à temática de boa parte dos títulos dos meus livros publicados. Quem nasceu e viveu no semiárido nordestino não pode esquecer o fenômeno das secas periódicas – inclementes até –, o calor, o mormaço, o gostoso barulho de chuva no telhado, o cheiro de terra molhada e o estrondo das enchentes do riacho da nossa infância.
Daí o título deste livro: Nuvens Carregadas.
Na verdade, nuvens carregadas são nuvens próximas do chão, fenômeno atmosférico que muda repentinamente o clima e pode dar origem a nevoeiro. Uma vez carregadas de cristais de gelo ou de água, essas nuvens produzem chuva que, para o sertanejo nordestino, é riqueza, milagre da natureza e dádiva do céu.
Assim, nasceu mais um livro que vem a público, completando a coleção de treze edições. Mais um novo livro a completar minha família literária.
Maceió, agosto de 2019.
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