Em abril de 2002, durante a semana de comemorações de mais um aniversário da emancipação política de Santana do Ipanema, o então prefeito Marcos Davi Santos mandou reabrir, solenemente, a Biblioteca Pública Municipal Breno Accioly, reinstalando-a adequadamente e colocando-a em funcionamento.
Convidado, coube-me a honra de usar a palavra na solenidade, em tom de modesta palestra, e discorrer sobre o auspicioso evento e sobre a vida e a obra do patrono da biblioteca, consagrado contista santanense, falecido em 1966.
Lembro-me de que, naquela tarde festiva, o chamado Beco da Cooperativa regurgitava de convidados, populares e curiosos. Ressuscitada e executando lindos dobrados, também estava ali perfilada a Banda de Música Santa Cecília, composta de orgulhosos jovens músicos da terra e sob a batuta de conhecido e experiente maestro.
Etimologicamente, biblioteca quer dizer “depósito de livros, lugar onde se guardam livros”. Mestre Aurélio completa: “Coleção pública ou privada de livros e documentos congêneres, organizada para estudo, leitura e consulta.” É, na verdade, patrimônio cultural, relíquia e repositório do pensamento universal, em livros. É tesouro do saber a nosso alcance, onde estudamos, pesquisamos, aprendemos.
Bibliotecas digitais já existem espalhadas pelo mundo afora. Imagino que sua eficácia, em termos de consulta e leitura, jamais poderá ser comparada à das bibliotecas convencionais, do livro de papel. Também sofisticados robôs já são capazes de, em tempo recorde, digitalizar títulos, folhear e escanear livros sem danificá-los.
Fundar ou reabrir uma biblioteca, como se fez em minha cidade, significa ato de patente visão administrativa, de sensibilidade política e, sobretudo, de preocupação com os negócios da cultura. Nesse particular, Santana do Ipanema tem tido muita sorte com seus administradores municipais. Há pouco tempo, a prefeita Renilde Bulhões restaurou, por exemplo, o Museu Histórico e de Artes Darras Noya, reabrindo-o à visitação pública.
Referida biblioteca teve, porém, a desventura de passar por três administrações municipais para poder funcionar plenamente. Idealizada pelo coronel Lucena Maranhão (1948-1950) e criada oficialmente por Adeildo Nepomuceno (1951-1955), somente foi instalada em 22 de fevereiro de 1956 por Hélio Cabral (1956-1960).
Recebo, agora, da conterrânea Albertina Agra recorte de longo artigo escrito por Moacyr Scliar, membro da Academia Brasileira de Letras, tratando da obra do falecido José Mindlin, que foi dono da maior biblioteca privada do Brasil, com cerca de 40 mil títulos. Finaliza Scliar: “A biblioteca deveria ser um lugar agradável, acolhedor, onde o ensino da literatura precisa ter como objetivo o trinômio conhecimento, prazer e emoção.”
Pois bem, três livros escritos por santanenses foram publicados neste meado de ano, dois dos quais (À Sombra da Quixabeira e Sertão Glocal) tiveram a participação de pelo menos 39 autores nativos. O número demonstra, afinal, que a fundação do Ginásio Santana e a instalação de uma biblioteca pública na santa terrinha contribuíram, decisivamente, para o surgimento de tantos talentos e intelectuais e para essa expressiva produção literária de excelente qualidade.
Maceió, outubro de 2010.
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