Nos três dias do Carnaval deste ano, estive participando do ambiente festivo do parque aquático do Mar Hotel, no Recife. Durante o tríduo de momo e réveillon, costumeiramente o recanto é tomado por uma alegre revoada de alagoanos. No Carnaval deste ano não foi diferente.
Lá encontrei, entre amigos alagoanos, Dr. Antônio Sapucaia, cronista, repórter, jornalista, escritor e desembargador aposentado. Amigos de longa data, desde meados da década de 1950, somos do tempo da saudosa Página dos Municípios, suplemento literário dominical do Jornal de Alagoas, dirigido pelo jornalista Carvalho Veras. Ele e mais outros jornalistas pilarenses encarregavam-se do envio de matérias para o espaço reservado ao município do Pilar. Eu, como aprendiz de escriba e ainda dando os primeiros passos como cronista matuto, mandava meus escritos para o espaço reservado a Santana do Ipanema. Comigo, também como colaboradores, estavam João Yoyô Filho, Miguel Bulhões e José Marques de Melo, este já despontando para o mundo do jornalismo e da comunicação. Tornou-se, tempos depois, o primeiro doutor em jornalismo no Brasil, professor catedrático com mais de 50 obras publicadas e conferencista a andar pelo mundo afora.
Das mãos de Sapucaia recebi, então, um volumoso e valioso presente, que passei a ler recolhido ao apartamento do hotel, uma vez cessada a folia carnavalesca de cada dia. Arquivo de Jornais, o livro de sua autoria, chegou-me acompanhado de generosa dedicatória.
Memorialista, o talentoso escritor reuniu o que de melhor existe em matéria jornalística, marcantes e rumorosas entrevistas, reportagens publicadas em famosos jornais e revistas do País. Ainda mais a história de sua vida na redação da Gazeta de Alagoas e do Jornal de Alagoas. Nessa passagem por redações de jornais, ladeado esteve por competentes jornalistas, considerados, então, verdadeiros monstros sagrados da imprensa alagoana.
Arquivo de Jornais, sem dúvida, é um livro de história; história da própria vida do autor e História de Alagoas dos últimos 50 anos. Nele há inúmeras homenagens a importantes e ilustres personalidades alagoanas, sobretudo expoentes do segmento científico, literário e jornalístico. O autor não esqueceu sua terra natal e seus conterrâneos, poetas, escritores, boêmios, cientistas, que se encontram em outra dimensão. Rica iconografia ajuda a interpretar os grandes momentos do competente profissional, do secretário de estado, juiz de Direito, exemplar pai de família e, finalmente, desembargador do Tribunal de Justiça de Alagoas.
Dele disse o falecido jornalista e promotor de justiça Joarez Ferreira: “Em todas as comarcas onde atuou, Antônio Sapucaia conduziu-se com o equilíbrio, a sapiência, a honradez e a probidade que o caracterizam. E sempre mereceu a amizade, a admiração e o respeito da comunidade.”
Pena que pouco tenha sido o tempo de sua permanência como desembargador. Sobre sua atuação por onde passou, seja como jornalista, servidor público, magistrado, disse o jornalista Valmir Calheiros “Revelou-se modesto, exemplarmente culto, capacitado, humano, justo e honesto.”
Este livro Arquivo de Jornais junta-se, afinal, a outras seis obras de Antônio Sapucaia, formando, assim e por enquanto, o acervo de sete títulos, todos bem recebidos pela crítica literária, sobretudo os que trataram da biografia completa de Costa Rego, pilarense, jornalista famoso, ex-governador de Alagoas e político polêmico nas décadas de 20 e 30 do século passado.
Parabéns, Sapucaia, pela sua obra e pela sua inestimável contribuição à literatura alagoana.
Maceió, Julho de 2014.
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